Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Covid-19 acossa esporte e não dá trégua para costumeiros oportunistas

Brasil x Argentina foi um visível show de incompetência de todos os envolvidos

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O jogo foi suspenso depois de disputados meros seis minutos. Um escândalo que ficou ainda maior levando-se em conta que estavam em campo as seleções do Brasil, com Neymar, e da Argentina, com Messi, times e estrelas da constelação milionária do futebol internacional.

Não se tratava de um simples amistoso, mas de confronto válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Ordens, contra-ordens, confusão, visível show de incompetência de todos os envolvidos, enfim, as cortinas foram fechadas 84 minutos antes de esgotado o tempo regulamentar do espetáculo. Ninguém assumiu o pecado pela arbitrariedade.

Só restaram dúvidas. Fazer a lição de casa e depois retoma-se a negociação. Vergonha! Menos ruim apenas porque não tinha torcida por causa da imposição das medidas sanitárias de combate ao coronavírus.

Messi e Neymar conversam durante confusão na arena Neo Química - Nelson Almeida/AFP

Tudo isso aconteceu na Neo Química Arena, o popular Itaquerão, estádio do glorioso Corinthians. Inapelavelmente a vergonha ganhou o mundo. Falta total de competência nunca chega a tamanho extremo, sempre tem um desvio. Desta vez, o impasse foi brutal, grosseiro, repugnante, pois, mesmo que encontrasse uma saída, continuaria sendo algo incompreensível.

Os esportes, via de regra, trafegam por caminhos cobertos de pétalas de rosa, macios. Clubes têm imensas dívidas, quase nunca honradas, e seguem em frente como se as faturas não existissem. Suas folhas salariais são astronômicas. Gastam-se fortunas, de cofres públicos e privados, na organização de eventos, principalmente Copas, Olimpíadas e Paralimpíadas. Embora nestes dois últimos setores, o competidores continuem sobrevivendo às duras penas.

A cartolagem, ao contrário, recebe vento de popa, sempre parece de bem com a vida. Raríssimos são os tropeços. O caso do Itaquerão foi levado para o colo da Fifa, que vai analisar relatórios e bater o martelo sobre quem foi o culpado. Depois marca uma nova data para o jogo no Itaquerão. Os vestígios da incompetência serão varridos para qualquer canto.

A lambança domingueira envolveu cartolas do futebol, brasileiros e argentinos, e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), funcionários da Polícia Federal (controlam no aeroporto de Guarulhos os viajantes vindos do exterior) e agentes da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), responsáveis pelo cumprimento de normas de combate ao Covid-19.

Segundo a Anvisa, quatro atletas argentinos deram informações falsas e ocultaram que estiveram na Grã-Bretanha nos últimos 14 dias. Por regras sanitárias de enfrentamento da Covid, o quarteto deveria cumprir quarentena ou não poderia entrar no Brasil para evitar a disseminação de variantes do novo coronavírus. Três deles, inclusive, estavam em campo como titulares.

Ninguém respondeu por que se esperou o jogo começar para a tomada de providência? Talvez a força do próprio esporte explique, acrescentando uma pitada do descompromisso e da soberba reinantes no setor. A estratégia seria esperar até o momento decisivo e o problema seria empurrado com a barriga. A casa caiu.

Táticas contorcionistas costumam dar certo no mundo dos esportes. Políticos adoram entrar nesse jogo e levar alguma vantagem e votos. Às vezes, dão com os burros n'água.

No período de cerca de um ano e meio, um episódio gerou muita especulação, envolvendo política e saúde em torno do esporte. Tratou-se na oportunidade da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, adiados do ano passado para os últimos três meses, por causa da pandemia, e encerrados no domingo (5).

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, desconsiderou alertas de especialistas e apostou nas Olimpíadas contra os opositores ao evento que queriam evitar os riscos de contaminação pela pandemia do novo coronavírus. Houve muito debate. O político deixava a sensação de que se os Jogos acontecessem sem intercorrências fatais a vida dele no partido navegaria em céu de brigadeiro. Como apostou também na reabertura da economia e em subsídios à indústria do turismo, descuidou-se um pouco da pandemia.

O Japão confirmou os Jogos, bandeira de Suga e do Comitê Olímpico Internacional e seus poderosos patrocinadores. Não se registrou nenhuma vítima fatal relacionada às Olimpíadas, realizadas sem público por causa da pandemia. Entretanto, ocorreu um crescimento explosivo de registros de Covid-19, situação comparada por especialistas a um desastre natural que ameaça sobrecarregar o sistema de saúde. Foi o suficiente para que Suga anunciasse no início deste mês sua desistência de se candidatar às eleições presidenciais do Partido Liberal Democrata programadas para o final deste mês.

Assim, ele terá de deixar o cargo de primeiro-ministro quando o novo líder for eleito. O desgaste na luta contra a pandemia fulminou com suas chances na política. Ele citou a necessidade de se concentrar em lidar com a pandemia como sua razão para desistir da corrida pela liderança, uma explicação que, segundo editorial do Asahi Shimbun, afirmou não ser confiável.

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