Indiscutivelmente, o mais destacado brasileiro na história das Paralimpíadas é Daniel Dias, 33, que acaba de encerrar sua carreira de nadador. Mas ele vai continuar ativo no esporte paralímpico, apenas trocará as piscinas, nas quais cravou suas conquistas, pela atuação nos bastidores como membro do Conselho de Atletas do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês).
O conselho é o meio pelo qual os atletas podem colaborar ou influir nas decisões da cartolagem esportiva que envolvem os seus interesses. Ninguém melhor do que o próprio atleta para saber da realidade da categoria, fomentar discussões e desenvolver projetos.
O brasileiro foi eleito para a função juntamente com a italiana Martina Caironi (atletismo), a cubana Omara Durand Elias (atletismo), o japonês Takayuki Suzuki (natação), a holandesa Jitske Visser (basquete em cadeira de rodas) e a iraniana Zahra Nemati (tiro com arco).
Vinte e dois atletas se candidataram, em votação que contou com 2447 competidores. Para concorrer, o candidato deveria ter participado das edições dos Jogos (Londres-2012 e Rio-2016).
Daniel Dias passa a ser a segunda voz do Brasil no comitê internacional, atualmente presidido pelo brasileiro Andrew Parsons. Além de o país ficar politicamente mais forte, ganha o movimento paralímpico com a experiência do renomado campeão.
Pelos seus conhecimentos e experiência, Daniel Dias reúne grandes possibilidades para contribuir com a evolução regulamentar do desporto paralímpico, que tem muito a discutir sobre o aprimoramento das suas disputas, em especial no setor que define as classes.
A classificação dos paratletas por classes busca a igualdade entre os concorrentes, que são pessoas com deficiência. Por isso, tal discussão tem viés relevante, determinando a igualdade entre os competidores. A classe é definida de acordo com o nível de comprometimento motor causado pela deficiência.
Daniel Dias nasceu com os membros superiores e a perna direita malformados. O braço direito para no cotovelo e o esquerdo é mais curto, com apenas um dedo. A perna direita termina no joelho. Levando-se em conta qualquer deficiência, sutilezas podem representar um desequilíbrio brutal entre concorrentes no esporte.
O próprio Daniel Dias encontrou barreiras em Tóquio por causa de uma troca de classes. Mudanças funcionais de atletas da China, Itália, Espanha e Ucrânia tornaram a categoria que ele disputava muito mais forte e remotas as chances de chegar ao ouro.
Assim, ele retornou de Tóquio com três medalhas, todas de bronze. Em Paralimpíadas anteriores, as regras adotadas talvez tenham favorecido o brasileiro, detentor de 27 medalhas paralímpicas (14 de ouro, 7 de prata e 6 de bronze)
As Paralimpíadas superaram a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Essa foi a grande vitória do evento e do movimento paralímpico, já que o risco de uma catástrofe sempre esteve presente. Aliás, o perigo vinha de um período imediatamente anterior, o das Olimpíadas, de muita tensão na capital japonesa, sede dos dois eventos.
As competições escaparam do pior, mas o Japão teve de reagir diante do crescimento das contaminações da sua população em geral. Nada a ver com os Jogos, embora o quadro da pandemia tenha mostrado como os eventos esportivos não estavam tão seguros como apregoavam os seus organizadores e o COI (Comitê Olímpico Internacional).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.