Por considerar as Olimpíadas de Tóquio, disputadas em meados deste ano, como a sua competição mais engajada de todos os tempos, o COI (Comitê Olímpico Internacional) não teve dúvidas em manter o skate, a escalada esportiva e o surfe na pré-lista dos 28 esportes para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028.
Introduzidas no evento do Japão, as três modalidades também estarão em Paris-2024. Em contrapartida, o Conselho Executivo do COI excluiu inicialmente das Olimpíadas o boxe, o levantamento de peso e o pentatlo moderno. Esses esportes ainda podem retornar ao programa olímpico, mas terão de ajustar suas atividades com as novas políticas do COI.
O programa de esportes está sendo antecipado para fornecer certezas aos atletas, aos comitês nacionais e ao comitê organizador de 2028. Dessa forma, todos os envolvidos com os Jogos poderão se programar e elaborar planos de preparação com mais segurança.
A proposta de inclusão daqueles três esportes voltados para jovens, segundo o COI, é baseada na contribuição significativa que as modalidades conseguiram para o sucesso geral dos Jogos, seu compromisso com a inovação e a parceria expressa pelo Comitê Organizador de Los Angeles-2028.
O ciclo Tóquio-Paris terá apenas três anos porque a pandemia do novo coronavírus adiou os Jogos no Japão por um ano. As incertezas anteriores ao adiamento e os impedimentos causados pela Covid-19 tumultuaram em demasia o período Rio-Tóquio.
Daí a necessidade de fornecer certezas antecipadas para regular os ciclos olímpicos. O Conselho Executivo do COI considerou todas as recomendações feitas pela Comissão do Programa Olímpico.
A finalização da revisão dos esportes ocorrerá antes da sessão do COI em 2023. Os eventos e a cota de atletas para cada modalidade serão decididos em dezembro de 2024, após os Jogos de Paris, informa a entidade.
Nesses tempos de mudanças olímpicas, os três excluídos –boxe, peso e pentatlo– terão muito trabalho pela frente. Para Paris-2024, o programa está mantido com esses esportes, embora eles devam já demonstrar algum progresso para correção de desacertos.
O boxe, tradicional esporte olímpico, estava sob o controle da Aiba (Associação Internacional de Boxe), que organizava os torneios da modalidade nos Jogos. De forma menos drástica a partir de 2015 e mais contundente após a Rio-2016, as relações entre a associação e o COI se deterioraram.
A Aiba perdeu a condição de tutora da modalidade nas Olimpíadas, e os torneios em Tóquio foram disputados sob controle de uma força-tarefa organizada pelo COI. Governança, transparência financeira, sustentabilidade e integridade de processos de arbitragem e julgamento de lutas são os entraves em discussão.
A Aiba deve demonstrar que abordou com sucesso as correções aos graves problemas observados naqueles setores da sua administração, onde foram levantados até fortes indícios de manipulação de resultados nas Olimpíadas do Rio.
Já o levantamento de peso virou um caso emblemático, pois exige uma mudança efetiva de cultura e uma transição para ficar em acordo com os conceitos olímpicos.
A IWF (sigla em inglês da Federação Internacional de Levantamento de Peso) é responsável pela organização mundial do esporte. A entidade deverá avaliar minuciosamente a incidência histórica de doping na modalidade e garantir a integridade, a robustez e a total independência de seu programa antidoping. Um assunto delicado e sério.
No pentatlo moderno, a grande preocupação se concentra no barateamento dos custos exigidos pela modalidade, bem como na sua complexidade, na melhoria nas áreas de segurança, na acessibilidade, na universalidade e no apelo para os jovens e o público em geral.
Como é sabido, o pentatlo reúne disputas de hipismo, tiro esportivo, corrida, natação e esgrima. A especialidade entrou na mira dos opositores, após flagrantes de maus-tratos a animais nas Olimpíadas de Tóquio.
Os incidentes impulsionaram a campanha visando o barateamento do esporte. Troca-se a prova com cavalos, que encarece a prática da especialidade com o transporte e cuidados com os animais, por outra modalidade, permitindo maior acesso ao esporte. Soa estranho que esse debate não contemple o hipismo, com o adestramento, o CCE e os saltos.
A própria UIPM (União Internacional de Pentatlo Moderno) assumiu a medida, mesmo tendo sido a modalidade idealizada pelo criador das Olimpíadas Modernas, o barão Pierre de Coubertin, com proposta de encontrar um atleta completo competindo nos cinco esportes.
Além das excluídas, mas que ainda podem reverter a medida, o COI tem uma outra preocupação, mais relevante, o futebol, mantido na grade de esportes para Los Angeles. Com ampla prática e repercussão mundial, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) estuda as possibilidades de a Copa do Mundo passar a ser disputada a cada dois anos.
A medida, caso adotada, trará enorme prejuízo para o esporte mundial, pois haverá ano com coincidência de Copa e Olimpíadas. Os dois principais eventos esportivos internacionais numa mesma temporada, com certeza, tornarão praticamente impossível um calendário esportivo satisfatório.
O COI, por enquanto, chama a atenção para o risco da evasão de craques nos torneios olímpicos de futebol, mas o prejuízo também poderá ocorrer nos acordos comerciais e de patrocínio, que ficarão mais complicados com uma divisão. E não é o esporte olímpico que ganhará com essa proposta.
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