Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Às vésperas da abertura, Pequim recepciona delegações das Olimpíadas

Esta será a nona participação brasileira nos Jogos de Inverno, jornada iniciada em Albertville-1992

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Na medida em que as delegações vão ocupando a Vila dos Atletas, em Pequim, os Jogos Olímpicos de Inverno superam o impacto da iniciativa dos Estados Unidos de incentivar um boicote ao evento por supostas violações do governo da China aos direitos humanos.

Postura do governo norte-americano aborrece os organizadores e dirigentes chineses, mas não bagunça o desfile de abertura dos Jogos, previsto para esta sexta-feira (4), sendo que algumas competições começam antes. Na verdade, Washington anunciou um boicote diplomático, que é menos impactante e protegeu a participação nas disputas atléticas.

Insisto nestes pontos para que as coisas fiquem bem entendidas. Os Estados Unidos e seus aliados na aventura apenas não enviarão representantes diplomáticos às solenidades oficiais do evento, como abertura e encerramento. Nas disputas esportivas, os atletas estão liberados por seus países para competir.

Alívio para a China se as dissidências internacionais ficarem nesse estágio, pois prováveis declarações públicas dos concorrentes durante as disputas, via mídia em geral, podem jogar sal no adocicado prato experimentado pelo país com as Olimpíadas.

Atleta do esqui estilo livre treina em Zhangjiakou, às vésperas do início dos Jogos
Atleta do esqui estilo livre treina em Zhangjiakou, às vésperas do início dos Jogos - Dylan Martinez/Reuters

A regra 50 da Carta Olímpica do COI proíbe "demonstração ou propaganda política, religiosa ou racial" nas instalações olímpicas. Mas, além de difícil prevenção, a norma não é clara na tipificação das declarações e sobre o que seria a punição. Sendo assim, não resta dúvida que pode se transformar em apetitoso convite para polêmica.

Nas Olimpíadas, consideradas um momento de confraternização dos povos, os olhos costumam fechar para alguns conflitos de interesse na esperança de que a paz reine entre os atletas e as delegações. A ONU (Organização das Nações Unidas) chancela tais momentos.

A Trégua Olímpica, resolução daquela organização, pede a paralisação dos conflitos e tensões em todas as partes do mundo durante os Jogos. O apelo entrou em vigor na última sexta (28), sete dias antes do início das competições e vai até 20 de março próximo, sete dias após o término das Paralimpíadas em Pequim.

A Resolução foi adotada por consenso de todos os 193 Estados Membros da ONU e copatrocinada por 173 Estados Membros na 76ª Sessão da Assembleia Geral da organização em 2 de dezembro de 2021. A tradição da Trégua Olímpica ("Ekecheiria") reafirma os valores de paz, solidariedade e respeito como há mais de 3.000 anos nos primeiros Jogos, na Grécia.

Independentemente desses apelos por trégua, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenta tirar proveito dos Jogos invernais em solo chinês, competição com mais de 80 países, para atacar a anfitriã. Lança suspeitas de violações dos direitos humanos contra a minoria muçulmana uigure, na província de Xinjiang, noroeste do país. A China também é acusada de genocídio e trabalho forçado, mas nega as acusações.

Boicote do tipo "Olimpíadas" exige orquestração de alto nível –o que parece pouco provável ter ocorrido neste episódio– para não fracassar. De resto, a atitude norte-americana não passa confiança e é porta aberta para estimular raciocínio semelhante ao usado por personagem humorístico da TV que, ao não vingar os seus argumentos sobre uma tramoia que pretendia emplacar, finaliza a sinuosa intenção com algo como "não ganhei, mas fiz o meu comercial".

China e Estados Unidos são potências mundiais, ao lado da Rússia e da Grã-Bretanha, entre outros. A participação desses países, mesmo que não enviem seus diplomatas, ajuda a aumentar a relevância das Olimpíadas de Pequim.

Cada potência mantém sob suas asas de influência países menos favorecidos e mais dependentes. Afagam esses parceiros e, quando precisam, especialmente nos embates com os rivais poderosos, exigem a contrapartida. Aí, cria-se um poço de conveniências, com carimbos semelhantes nos dois lados.

Os Jogos de Pequim acontecem num momento de várias crises internacionais. A mais tensionada é aquela que vislumbra uma possível invasão da Ucrânia pelas forças armadas da Rússia, após a anexação da Crimeia em 2014. Tropas russas estão de prontidão na fronteira.

O presidente russo Vladimir Putin, inclusive, é esperado na abertura dos Jogos sob a condição de convidado do governo chinês. Não houvesse o convite, ele estaria proibido de comparecer porque a Rússia está suspensa das principais competições internacionais até o fim deste ano.

O motivo do gancho é o uso de substâncias proibidas em suas delegações esportivas para melhorar o rendimento dos atletas. Tal política criminosa teria tido inclusive respaldo estatal. No entanto, os esportistas russos considerados "limpos" de doping poderão participar dos Jogos Olímpicos sob uma bandeira neutra.

Washington alertou Moscou que qualquer violação na fronteira ucraniana terá resposta "rápida, severa e unida" dos Estados Unidos e aliados. Considera-se aí todo tipo de cenário, desde uma invasão total até ataques híbridos, subversão, sabotagem ou coerção.

Seria uma saia justa para a China, parceira da Rússia e que acolhe as Olimpíadas. Moscou negou ter qualquer intenção de invadir a Ucrânia e quer garantias de segurança, como bloquear a Otan na Ucrânia, apontaram agências internacionais de notícias.

A Coreia do Norte cumpre suspensão e não participa dos Jogos na China, mas é sempre motivo de preocupação. A punição foi motivada pela ausência do país nas Olimpíadas de Verão, em Tóquio, quando o seu comitê olímpico nacional alegou temores por causa da Covid-19. Incentivada pelo seu líder Kim Jong-un, a Coreia do Norte tem deixado os Estados Unidos e várias outras nações de cabelo em pé por causa dos testes que realiza com mísseis com capacidade nuclear.

A pandemia do novo coronavírus é outro desafio para os organizadores chineses. Por isso, a competição vai acontecer numa bolha sanitária, com especialistas mobilizados para combater a Covid-19. A partir do desembarque das delegações em solo chinês, os atletas são orientados e enquadrados em medidas restritivas para proteção da saúde.

O presidente do COI, Thomas Bach, chegou a Pequim no fim de semana passado e participou de reunião com o presidente chinês Xi Jinping depois de cumprir três dias de isolamento.

Pequim é a primeira cidade a abrigar os Jogos Olímpicos de Verão, em 2008, e os de Inverno. Os relatos sobre a China na internet disparam informações em várias direções. Uma delas fala que o governo pode lançar foguetes na tentativa de estimular a queda de neve com bombardeio de nuvens. Essa medida ajudaria a melhorar o clima na capital, que enfrenta constante ar poluído.

País tropical, o Brasil conta com poucos atletas de esportes na neve. Pequim será a nona participação brasileira nas Olimpíadas de Inverno, jornada iniciada em Albertville-1992. Nenhum brasileiro foi ao pódio no evento.

A melhor colocação veio em Turim-2006, com o 9º Iugar de Isabel Clark no snowboard cross. Já no gelo, a melhor posição foi o 19º lugar de Fabiana dos Santos e Sally da Silva na prova de 2-woman, do bobsled, em Sochi-2014.

A delegação nacional conta com 11 atletas em Pequim. Jaqueline Mourão é a principal estrela da equipe. Ela vai atingir a marca histórica de oito participações em Jogos Olímpicos, sendo três de Verão e cinco de Inverno. Os oito Jogos: Atenas-2004, Turim-2006, Pequim-2008, Vancouver-2010, Sochi-2014, PyeongChang-2018, Tóquio-2020 e Pequim-2022.

Além da aguardada presença de Putin, outros convidados para a festa olímpica são o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, e o príncipe-herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, sobre quem pesa um repúdio dos dirigentes mundiais pelo caso do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018, em Istambul. Também é esperado o presidente do Cazaquistão, Kasym Jomart Tokayev.

Apesar das defecções diplomáticas, os ritos das Olimpíadas estão mantidos em conformidade com os regulamentos.

A neve é algo um pouco distante da torcida brasileira, mas as disputas, tão espetaculares, são gratificantes para os fãs de esporte. A TV vai mostrar a magia do ser humano na neve. Prepare a pipoca!

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