É editor do núcleo de Cidades.
Seca e crise nas eleições
SÃO PAULO - Eleição municipal, no Brasil, é quase sinônimo de guerra e de chantagem. Em especial nas pequenas cidades, a disputa pela cadeira de prefeito não poucas vezes ocorre na base da troca de favores, de ameaças e de violência entre os eleitores e os próprios candidatos.
Em outubro próximo, quando 144 milhões de pessoas de 5.570 municípios do país poderão ir às urnas, dois fatores coincidentes tendem a agravar ainda mais esse quadro de tensão: a seca e a crise econômica.
A estiagem, todos sabem, faz parte da rotina dos Estados do semiárido. Mas a atual escassez de chuvas na região é uma das mais severas em décadas, o que resulta em um cenário prolongado de cidades em situação de emergência, açudes vazios, animais mortos e plantações perdidas.
Tudo isso amplia a fragilidade do eleitor e o deixa mais exposto a favores dos candidatos em troca da promessa de voto, a chamada "pidança". Ofertas não faltam. Uma comum é o candidato oferecer caminhão-pipa para abastecer a cisterna seca do eleitor, que, em troca, expõe o cartaz da campanha na porta de casa. Outra é o empréstimo de pequenas máquinas, como tratores, para que o eleitor acelere o plantio de subsistência.
Some esse quadro ao agravamento da crise econômica, que derrubou orçamentos das prefeituras, essas cada vez mais dependentes de verbas federais (que sumiram) e dos fundos constitucionais (que recuaram).
O resultado é de caos financeiro, com serviços paralisados e dispensa de funcionários, fatores que derrubam a popularidade do prefeito e o colocam como azarão da disputa.
Em desvantagem e desesperados pela reeleição, como já se viu em outros pleitos, alguns deles ampliam o uso da máquina para chantagear eleitores e perseguir adversários. Nada muito diferente do que Victor Nunes Leal (coronelismo) e Maria Isaura Pereira de Queiroz (mandonismo) escreveram décadas atrás em clássicos da literatura nacional.
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