Eduardo Sacheri

Escritor argentino apaixonado por futebol e autor do livro 'O Segredo de Seus Olhos'

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Eduardo Sacheri
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Lionel Messi no seu labirinto

Craque converte em uma sombra a perambular pelo campo e companheiros não ajudam

Buenos Aires

Quando coube à Argentina estrear contra a Islândia na Copa do Mundo, como tantas vezes na vida das pessoas e dos países, se abriram duas alternativas, dois destinos possíveis.

No primeiro, a Argentina superaria facilmente uma seleção debutante. De forma tranquila, encerraria sua primeira partida com um triunfo e três pontos importantíssimos.

No segundo cenário, a Argentina entraria em um labirinto de indecisões, seu líder, Messi, erraria um pênalti num momento chave. A seleção se misturaria numa confusão e o panorama seria de assombração.

A derrota para a Croácia --espaçosa, categórica e, sobretudo, justa-- põe a Argentina à beira do abismo de uma desclassificação precoce na Rússia. A passagem para as oitavas agora depende não só de vários resultados. Mas, principalmente, da crença, que no fundo ninguém tem, de que ainda reste uma sobrevida para esta equipe.

Como em tantas outras vezes, de dois destinos possíveis a Argentina cai no mais funesto, complicado e atemorizante. E, para piorar, o faz levada pela mão do seu jogador mais importante.

Se na estreia Messi esteve no centro da tormenta ao errar a cobrança de um pênalti, contra a Croácia se converte em uma sombra a perambular pelo campo. Isso num contexto em que o técnico, a equipe, toda a Argentina considera que ter o melhor jogador do mundo implica fazer com que tudo, absolutamente tudo, dependa dele.

Assim como todos os olhares estão focados nele, seus companheiros de equipe não parecem dispostos a elaborar nenhuma ação ofensiva sem entregar a bola para ele uma vez, duas vezes, três vezes. Ainda que outras opções melhores existam no lance.

Segundo seus críticos, Sampaoli não toma nenhuma decisão vinculada ao jogo, aos jogadores escolhidos ou opção tática sem escutar previamente Messi e depois acatar o seu desejo.

É assim ou isso já faz parte da mitologia que, ano a ano, Mundial a Mundial, desilusão atrás de desilusão, a Argentina constrói ao redor do seu camisa 10?

Não sei. O certo é que não foi possível para Messi nos salvar. A Argentina é um apostador à beira da bancarrota, que entrega suas últimas fichas na jogada de uma roleta desesperada.

E seu líder, sua estrela, seu herói, se desmorona sem que ninguém seja capaz de evitar a ruína e a queda, enquanto se torna distante a chance de que o melhor jogador do mundo se consagre, com o seu país, campeão mundial.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.