Eduardo Sacheri

Escritor argentino apaixonado por futebol e autor do livro 'O Segredo de Seus Olhos'

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Eduardo Sacheri
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Brasil e Argentina: dois modos diferentes de partir

As formas das eliminações importam, ou só importa o resultado?

Buenos Aires

As formas importam, ou só importa o resultado? Esse dilema de raiz filosófica tem, como muitos outros, uma tradução futebolística.

Há exemplos de equipes que são recordadas com admiração quaisquer que tenham sido seus resultados. A Holanda vice-campeã de 1974 talvez seja o caso que melhor testemunhe essa possibilidade, mas a opção contrária também é verdadeira: equipes que conseguiram criar uma aura de prestígio, uma aura mítica, com base apenas nos resultados. A Argentina que chegou à final da Copa de 1990, na Itália, jogava um futebol rústico, mas com a ajuda de golpes de sorte e lances dramáticos, sua jornada se tornou epopeia.

Existiram, nas Copas, equipes a um só tempo brilhantes e de sucesso? Sem dúvida. O Brasil campeão de 1970 passou à história por reunir essas duas virtudes. Mas não nos iludamos: o futebol raramente oferece essa combinação perfeita de efetividade e beleza.

Para avaliar as despedidas da Argentina e do Brasil, essa pergunta me veio à cabeça, ainda que eu não seja capaz de chegar a uma resposta contundente. As duas foram eliminadas por dois semifinalistas que jogaram um futebol mais vistoso e possivelmente mais efetivo. Mas as semelhanças terminam aí.

A Argentina viveu a Copa do Mundo como uma alternância de tragédias e momentos felizes, e sucumbiu, completamente desconcertada, diante da França. Foi o 4 a 3 mais mentiroso da história, e se o jogo tivesse terminado em 5 a 1 ninguém teria objetado.

E o Brasil? Quando Renato Augusto cabeceou e venceu o goleiro belga, levando o placar a 2 a 1, troquei um olhar com meu filho --assisti com ele a todos os jogos da Copa-- e comentamos que "agora o Brasil vai empatar".

 

Não era nem desejo nem temor, nem esperança nem desgosto. Era uma certeza. Faltavam 15 minutos, e as situações de risco em favor do Brasil se acumulavam. Que chance teria a Bélgica de aguentar aquela superioridade ofensiva? Pouca. Mesmo assim, como estamos falando de futebol, entre erros próprios e defesas heroicas de Courtois, o Brasil se viu impedido de avançar.

Retornar deixando uma imagem penosa é a mesma coisa que fazê-lo deixando uma imagem sólida e vistosa? Só o resultado importa, nesse jogo?

Nem o futebol nem a vida oferecem abundância de respostas definitivas e tranquilizadoras. Devemos nos conformar por ele ao menos nos propor perguntas interessantes.

Tradução de Paulo Migliacci

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