Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Jaguar confia na vaidade humana para vender automóvel elétrico

I-Pace chega às lojas com propagandas que destacam desejo por status e outros pecados

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Entre todos os motivos que levam alguém a trocar de carro, o status é sempre tratado com meias palavras.

É feio admitir que a compra foi motivada pela vontade de parecer melhor que o vizinho e passar uma imagem de pessoa bem-sucedida. Mas é esse “pecado” que vai mudar a história dos carros elétricos.

A Jaguar começa a vender neste mês o modelo I-Pace, que só pode ser abastecido na tomada e custa a partir de R$ 437 mil. A marca inglesa poderia anunciá-lo como um carro para abonados com consciência ambiental, mas prefere investir nesse fruto proibido chamado vaidade.

As propagandas mostram atores desfilando altivos com jaguares na coleira enquanto os passantes os olham com admiração. O veículo aparece no fim do vídeo, com toda honra e glória de um ser superior.

Nada de folhinhas verdes ou céu azul, comuns nos anúncios de carros elétricos.

Essa nova postura busca colocar o I-Pace no posto de objeto do desejo. Não soltar fumaça é apenas uma de suas qualidades, não a principal.

Ao falar do lançamento no Brasil, executivos citam o igualmente opulento Porsche Macan como concorrente, um modelo que se destaca pelos motores potentes que queimam gasolina. 

Apesar da mal disfarçada empáfia, esse posicionamento da Jaguar fará bem a todos os automóveis elétricos. É a mesma lógica dos utilitários compactos, que só viraram febre global porque os jipões de luxo chegaram antes com pompa e circunstância.

Donos do Chevrolet Bolt ou do Nissan Leaf —carros cuja função se sobrepõem à forma— poderão dizer que seus automóveis têm a mesma tecnologia empregada no I-Pace, sendo igualmente silenciosos.

Por custar mais de R$ 400 mil, o Jaguar não pode deixar de lado o desempenho e os equipamentos compatíveis com esse valor. Há 400 cv de potência e força de caminhão nas arrancadas. Dirigi-lo é uma experiência que modifica a forma como enxergamos os automóveis.

A capacidade de carga equivale a de 9.000 baterias de um smartphone moderno e permite rodar cerca de 400 quilômetros. Isso significa que serão necessárias muitas horas para que sejam totalmente reabastecidas. Mas ao informar isso, o comprador já estará tão inebriado com a imagem dos jaguares na coleira que nem se preocupará tanto.

A marca vai vender também carregadores para casas e condomínios, que diminuem consideravelmente o tempo plugado na tomada. Essa oferta só deverá ser apresentada no fim das demonstrações, quando o candidato a proprietário já vai achar que seu Porsche não é máximo.

Ao apelar para os pecados capitais ao vender seu elétrico no Brasil, a Jaguar movimenta todo o segmento. Por mais que a proposta “zero fumaça” seja atraente, a compra de um carro envolve cobiça, inveja, orgulho e luxúria.

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