Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Ágio e inovação marcam história de Corsa e Gol 'bolinha', lançados há 25 anos

Compactos chegaram a custar 50% a mais do que o sugerido nas tabelas

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Dois carros que mudaram a história dos compactos no Brasil completam 25 anos em 2019: o Chevrolet Corsa e a segunda geração do Volkswagen Gol.

A evolução de estilo e a possibilidade de acrescentar itens antes restritos aos veículos de luxo colocam esses veículos entre os mais icônicos da indústria nacional. Entretanto, a história de inovação é contaminada por péssimas práticas de mercado.

Em abril de 1994, Chevrolet Corsa (à dir.) posou ao lado dos concorrentes Ford Escort Hobby (carro vermelho), Volkswagen Gol 1000 "quadrado" e Fiat Uno Mille - Eduardo Knapp/Folhapress

O compacto da General Motors estreou primeiro, em fevereiro. Sua carroceria arredondada estava em dia com a Europa —o modelo havia sido projetado pela alemã Opel— e logo se tornou um fenômeno com ajuda da concorrência. Tudo o que então existia no segmento remetia ao início dos anos 1980.

O Corsa deveria ter o mesmo preço dos rivais, mas era encontrado por valores muito acima do sugerido na tabela. O Brasil passava pelos ajustes fiscais que resultaram no Plano Real, mas o futuro ainda era incerto.

A memória recente da hiperinflação fazia o consumidor adquirir carro como se fosse poupança, pois o preço do usado aumentava mês após mês. Muitos deixavam o veículo parado à espera da capitalização: parecia melhor que guardar o dinheiro no banco.

Quase todos os veículos tinham sobrepreço, mas o Corsa chegava a custar 50% a mais nas lojas independentes. Os Chevrolet zero-quilômetro eram repassados diretamente pelos concessionários para esses revendedores. Um ajudava o outro a lucrar mais.

Em valores de hoje, seria como pagar R$ 70 mil em um Onix Joy que tem preço sugerido de R$ 46,6 mil.

Versão 1995 do Volkswagen Gol 1000i Plus - Marcio Capovilla/Folhapress

 O problema persistia em setembro de 1994, mês de apresentação do Volkswagen Gol apelidado de “bolinha”. O carro nasceu como líder de mercado, popularidade que estimulava o aumento de preços.

No fim daquele ano, o Volks era encontrado com ágio de 40% em lojas independentes. A escassez de carros nas concessionárias era justificada pela entrega de modelos a clientes de consórcios, o que não era verdade.

A situação só começou a se normalizar no meio de 1995. Houve reajustes de preços nas montadoras —para cima, é claro— e a estabilidade da moeda fez o consumidor perceber que não valia mais considerar a compra de um carro como investimento. No fim daquele ano, a inflação acumulada ficou em 22%, segundo o Banco Central.

O cenário atual é bem diferente. O número de carros populares modernos se multiplicou, há muitas opções e menos clientes. Ainda em recuperação após quedas seguidas nas vendas, a maior parte das fábricas opera com capacidade ociosa: produzem menos do que poderiam.

Do passado resta a história e a péssima imagem que o setor automotivo ainda carrega pela forma como tratou os consumidores há 25 anos.

 

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