Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Descrição de chapéu

Culpar radar por multa equivale a responsabilizar o copo pela embriaguez

Soluções sem embasamento técnico poderiam ser evitadas se fiscalização fosse mais preventiva

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O canteiro central da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, acumula pedaços de plástico, metal e borracha que se desprenderam de carros. A concentração é maior no trecho de chegada à capital, a poucos quilômetros do acesso à marginal Tietê.

Quem já transitou por ali de manhã sabe o porquê de tantos detritos. Motoristas que seguem nos seus carros em alta velocidade —o limite da via é de 120 km/h na maior parte de seus 173 quilômetros— se deparam com o trânsito parado. Um instante de distração resulta em engavetamento.

Há sinais piscantes para alertar a existência de um engarrafamento adiante, além de telas que indicam trânsito lento à frente. Essas iniciativas reduzem os riscos, mas não são suficientes para zerar as colisões.

A culpa pelos acidentes não cabe à presença ou à ausência das sinalizações, mas, sim, à desatenção do motorista.

Policial rodoviário federal usa radar portátil na BR-376, em Guaratuba (PR)
Policial rodoviário federal usa radar portátil na BR-376, em Guaratuba (PR) - Fernando Oliveira/Agência PRF


Em uma tentativa de se sentir inocente, o condutor pode transferir a culpa ao carro que não quis parar ou ao celular que insistia no envio alertas. Em um caso ou no outro, é responsabilizar o copo pela embriaguez.

O mesmo ocorre na discussão sobre radares nas rodovias. Os aparelhos não são os culpados pelas multas, por mais que seja questionável a utilização de equipamentos fixos ou móveis em alguns trechos.

O portal Estradas calculou quantas autuações por excesso de velocidade foram aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal em 2017.

O número de 3 milhões de flagrantes impressiona, mas ao considerar o total de quilômetros monitorados (140 mil), chega-se à média de uma multa por hora a cada 400 km. É pouco para se chamar de "indústria da multa", termo que se enquadra melhor nos sistemas adotados em algumas cidades. É difícil defender radares escondidos em locais cujos limites de velocidade mudam abruptamente entre uma curva e outra.

Soluções sem embasamento técnico poderiam ser evitadas se os modelos de fiscalização adotados no Brasil fossem mais eficientes e preventivos.

Sistemas que monitoram a velocidade média ao longo do percurso empacaram nos estudos de viabilidade. O que há hoje são equipamentos que registram um instante, aquele ponto em que o carro passa em velocidade mais baixa após o motorista avistar a fiscalização instalada em um poste ou totem. Em seguida, volta a acelerar.

Nesse ambiente, os radares móveis tornam-se um instrumento complementar. Flagram excessos em trechos sem aparelhos fixos, mas, além de alimentarem teorias, têm contribuição menor na redução de colisões causadas por excesso de velocidade.

Em um cenário ideal, as vias seriam fiscalizadas ponto a ponto e todos os trechos críticos teriam radares bem sinalizados, com o mesmo objetivo das luzes que alertam sobre engarrafamento adiante: reduzir acidentes.

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