Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Aposentadoria de caminhões velhos volta a ser discutida em São Paulo

Montadoras e governos terão de convencer a categoria de que a renovação da frota será vantajosa

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Na próxima quarta-feira (23), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se reúne com a direção da Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil. O assunto será a criação de um programa para renovar a frota de caminhões que circula pelo estado.

O tema voltou à pauta nesta semana durante a Fenatran, principal feira do setor de transporte de carga no país. Há bons motivos para reabrir as discussões.

A Anfavea estima que haja 230 mil caminhões com mais de 30 anos em circulação.

São máquinas históricas, como os tantos Scania 111 "Jacaré" ou Mercedes 1113 que puxam toneladas Brasil afora. Lançados na década de 1970, hoje são dirigidos por motoristas autônomos.

Renovar a frota significa retirar esses veículos das ruas e destruí-los. São modelos com milhões de quilômetros percorridos e incontáveis alterações mecânicas. Mesmo em perfeitas condições de uso, não oferecem a segurança e a eficiência presentes em gerações mais atuais.

Ao se defrontar com a questão do desmanche dos caminhões velhos, o poder público costuma reconsiderar os planos. Quem mexe com uma categoria que parou o Brasil em maio de 2018 se arrisca a perder votos em eleições futuras e ver o capital político ser queimado junto com o óleo diesel.

Modelos pesados produzidos há 40 anos ainda valem R$ 40 mil ou R$ 50 mil no mercado de usados. Caso sejam desmontados e vendidos por peso, não custariam mais que R$ 10 mil em uma avaliação generosa.

Caminhões Scania movidos a GNV (gás natural veícular) no pátio da fábrica, em São Bernardo do Campo
Caminhões Scania movidos a GNV (gás natural veícular) no pátio da fábrica, em São Bernardo do Campo - Folhapress


Para conseguir oferecer um plano que não termine com protestos e rodovias fechadas, montadoras, financeiras e governos terão de convencer os caminhoneiros de que a renovação será vantajosa para a categoria. Isso implica valorização do bem sucateado, plano subsidiado de parcelamento e isenções de taxas.

Ainda assim será difícil trocar um modelo antigo por um zero-quilômetro, que seria o ideal para combater outro problema, a poluição.

A partir de janeiro de 2023, todos os caminhões novos à venda no Brasil terão de estar adequados ao padrão Euro 6 de controle de poluentes e de gás carbônico, adotado na Europa em 2016. A norma é a oitava fase do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores).

Se tudo continuar como hoje, esses novos caminhões dividirão espaço nas estradas com veículos que foram lançados antes de existir qualquer programa antipoluição.

Uma alternativa é fazer um programa que inclua a compra de veículos usados mais modernos.

Enquanto os grandes donos de frotas compram caminhões novos padrão Euro 6 movidos a diesel ou a GNV (gás natural veicular), os motoristas autônomos poderiam ter vantagens para trocar um modelo com 30 anos de uso por outro produzido a partir de 2010, por exemplo.

Todas essas questões serão colocadas à mesa na próxima quarta. Será um teste para a habilidade política de Doria, que escolheu a indústria automotiva como uma das vitrines de sua atuação no governo de São Paulo.

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