Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Salão do Automóvel de SP foi ponto de encontro de montadoras e presidentes

Agora esvaziado, evento mostra perda de prestígio político da indústria

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Ao anunciar suas ausências no Salão do Automóvel de São Paulo, grandes montadoras expuseram, indiretamente, um dos maiores problemas do setor automotivo nacional: a perda de prestígio político.

Em um passado recente, estar no evento significava passar um recado ao governo, fazer lobby e mostrar pujança, além de ouvir afagos e anúncios em prol das fabricantes.

O salão sempre foi um palco confortável para chefes de Estado. As cerimônias de abertura reuniram também ministros, governadores e prefeitos de diferentes partidos ao longo dos anos em um ambiente controlado, sem vaias ou protestos.

Em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) fez a assinatura do programa de incentivo Rota 2030 no São Paulo Expo (zona sul). Poucas horas depois, o espaço foi aberto ao público.

Na edição de 2012, quando o Salão de São Paulo ainda era realizado no Pavilhão de Exposições do Anhembi (zona norte), Dilma Rousseff (PT) aproveitou a abertura oficial para anunciar que a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros seria prorrogada. Quatro anos antes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passeou ao lado do então governador José Serra (PSDB) pelos estandes da mostra.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador José Serra (PSDB) posaram a bordo de um Smart Cabrio durante a abertura do Salão do Automóvel de São Paulo 2008, realizado no Anhembi - Marlene Bergamo - 29.out.2008/Folhapress

Em 1996, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu acordos comerciais e disse que os veículos expostos no evento eram resultado do amadurecimento nas relações entre o governo, as fabricantes e a classe trabalhadora.

Quando empresas do porte de Chevrolet, Hyundai e Toyota abrem mão de participar do Salão de São Paulo, mostram-se mais distantes de Brasília e fazem a Anfavea (associação das montadoras) acender a luz de alerta.

A entidade é quem leva as demandas do setor ao governo. O diálogo com o poder, que começou tenso na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), sempre ganhou tons mais amenos devido à proximidade propiciada na exposição automotiva. 

Tanto a Anfavea como a Reed Alcantara Machado (organizadora do evento) tentam salvar o salão e convencer os desistentes a mudar de ideia.

O alto investimento necessário para exibir é uma das principais justificativas das marcas quando decidem se ausentar de um salão. As empresas passam por um período de restrições orçamentárias devido a aportes de capital no desenvolvimento de veículos elétricos, por exemplo.

Contudo, existem formas de reduzir gastos com exposições. Há fabricantes que montam circos itinerantes para os salões internacionais.

As estruturas são desenvolvidas pelas matrizes para viajar o mundo, solução que corta despesas: os gastos com logística são menores que os custos de desenvolvimento e execução dos espaços.

A Renault adota essa estratégia, que pode incluir até os uniformes utilizados pelos atendentes. O estande que o público brasileiro viu nas últimas edições do evento de São Paulo é o mesmo que a marca francesa exibiu no Salão do Automóvel de Paris, cuja realização ocorre cerca de dois meses antes da mostra brasileira.

Os organizadores estão dispostos a negociar e esperam que soluções de menor custo sejam consideradas.

Por se tratar do maior evento do setor automotivo na América Latina e por todo o componente político que faz parte do pacote, o Salão de São Paulo permanecia na programação das grandes empresas do setor. Ao perder relevância, perde também a oportunidade de ser um acontecimento político.

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