Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Criticar governos será rotina no novo gigante dos automóveis

Carlos Tavares, presidente da Stellantis, não floreia os comentários

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Resultado da fusão entre os grupos FCA Fiat Chrysler e PSA Peugeot Citroën, a Stellantis ganha forma e traz um fator raro à indústria automotiva: um executivo que entende as relações políticas de sua empresa em diferentes mercados e não faz floreios ao criticar governos.

A América do Sul é um território propício para os pitacos de Carlos Tavares, presidente do novo gigante do setor automotivo. A empresa é a quarta maior montadora do mundo, com 400 mil funcionários.

Nesta semana, em entrevista, o executivo disse que as decisões regulatórias podem erguer barreiras intransponíveis na região, inviabilizando os negócios. Ele citou o exemplo da Ford no Brasil e transferiu parte da responsabilidade aos governos locais —que, na sua visão, deveriam decidir se querem ter uma indústria automotiva forte ou não.

Comentários como esses serão rotina a partir de agora, principalmente nas visitas que Tavares fará neste ano aos principais países em que há fábricas do grupo Stellantis.

O Brasil está entre os primeiros da lista, graças à força da Fiat e da Jeep em nosso mercado —a marca italiana é mais relevante aqui do que em sua sede. O executivo já visitou nosso país em outras oportunidades, quando era presidente do grupo PSA Peugeot Citroën. Em todas as passagens, sempre deixou recados.

Em março de 2018, durante visita à fábrica das marcas francesas em Porto Real (RJ), Tavares criticou a postura de políticos sobre legislações em prol da redução de emissões e seus custos. Na época, indagou se os governantes teriam coragem de aumentar impostos por causa de veículos elétricos.

“Qual será o preço cobrado pela eletricidade, que impacta o custo do quilômetro rodado? E como será a reciclagem das baterias?”, questionou o executivo. “Há um risco grande de que os carros elétricos sejam usados como política eleitoral nas grandes cidades.”

Um ano depois, foi direto em relação ao Brasil. “Quando fazemos um plano de melhorar qualquer coisa aqui, tem de ser por períodos curtos, entre duas crises.”

Diante do cenário atual da indústria automotiva nacional, os comentários de Tavares deverão ser ainda mais enfáticos em sua próxima visita. O tom de sua voz vai subir com a relevância da Stellantis, que detém 18% do mercado brasileiro de forma desigual.

Enquanto Fiat e Jeep vão bem, Peugeot e Citroën precisam de ajuda. Inaugurada no fim da década de 1990, a fábrica de Porto Real é uma das mais modernas do Brasil e poderia dar origem a veículos de diferentes marcas do grupo, inclusive elétricos.

Entretanto, apenas dois carros são produzidos lá atualmente: os utilitários compactos 2008 e C4 Cactus.

Apesar das dificuldades e do temor de mais um fechamento de fábrica no país, a unidade fluminense deve receber novos produtos de volume. A primeira novidade trará a marca Citroën —protótipos já circulam pelo Vale do Paraíba, e o lançamento deve ocorrer no meio do ano. Será um veículo de pequeno porte com ares de carro premium.

Mas falar de carros compactos hoje desperta a preocupação com a rentabilidade. As montadoras instaladas no Brasil têm apostado em veículos de maior valor agregado, o que eleva o tíquete médio dos produtos vendidos no Brasil.

Com o real desvalorizado e a necessidade de melhorar as margens, já é possível prever que, em sua próxima visita, Tavares irá direcionar suas críticas à falta de competitividade da indústria nacional, com pedidos implícitos de auxílio governamental.

Diferentemente da Anfavea (associação das montadoras), que tem pedido reformas estruturais e menos burocracia, o presidente da Stellantis não deve ter o receio de passar uma imagem negativa ao pôr planos de incentivos em pauta.

Enquanto Tavares não vem ao Brasil, os executivos aqui baseados traçam planos para recuperar o lucro. A escolha de Antonio Filosa para a presidência da nova empresa na América do Sul é prova de que o foco está na saúde financeira.

Em sua passagem à frente da FCA, Filosa anunciou investimentos vultosos em meio à crise e preparou a chegada de modelos mais rentáveis da marca Fiat. Ele já visitou as instalações da PSA e vai trabalhar no fortalecimento das marcas francesas, além de avaliar as possibilidades para a alemã Opel no Brasil —outra marca forte da Stellantis— e definir estratégias de eletrificação para a América do Sul.

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