Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Da viagem de Dodge a Montevidéu em 1921 à saída da Ford, Folha acompanha o universo automotivo há 100 anos

Notícias e anúncios contam a história da indústria no país, com seus altos e baixos

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A primeira menção da Folha ao universo automotivo foi feita em sua segunda edição, no dia 21 de fevereiro de 1921.

O texto publicado na página cinco da Folha da Noite contava em poucos parágrafos a aventura de Pelegrin Figueras, que viajou com seu Dodge de Porto Alegre até Montevidéu. De acordo com a matéria, a viagem de 1.550 quilômetros durou quatro dias, a uma velocidade média de 35 km/h.

Em 1925, o jornal acompanhou à distância a expedição de veículos Citroën pela África. As informações —que chegavam por telegrama— eram publicadas em pequenas notas. Percorrer longas distâncias por caminhos sem estrutura e usando carros ainda em evolução era, de fato, uma epopeia que merecia registro.

Acidentes e veículos surrupiados também eram notícia. A edição de 12 de abril de 1924 contava a história de um Chevrolet furtado em frente ao Cine República, na região central de São Paulo. De acordo com o texto, o dono assistia a um espetáculo e, ao sair, “deu pela falta de seu automóvel”.

“Todos acreditavam que após os primeiros ‘vôos’ das Fords seriam tomadas providencias pela policia, vigiando os locaes onde estacionam os carros. Nada foi feito e é raro o dia que os jornaes não registem novos furtos” (conforme grafia da época).

Nos anos seguintes, à medida em que o automóvel ganhava as ruas em São Paulo, o noticiário da Folha começava a ser salpicado por anúncios, que, vistos hoje, também contam a história.

Em 28 de novembro de 1948, um certo Ford Inglês foi propagandeado como “possante, econômico e confortável”. Na mesma página da Folha da Manhã, uma notícia mostrava o momento difícil vivido pela indústria automotiva alemã.

Tanto a publicidade quanto a dureza dos fatos tinham relação direta com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O carrinho da Ford, então um sucesso de vendas no Brasil, fazia parte dos esforços de reconstrução da Europa. Era o Prefect, modelo lançado antes do conflito e que, de volta à linha de montagem na Inglaterra, virou produto de exportação.

O aumento da frota circulante e o desconhecimento do público sobre o assunto levou à criação da coluna

No Mundo dos Veículos Motorizados. A primeira foi publicada no dia 23 de março de 1954 e explicava o funcionamento dos motores a explosão.

Era um período próspero para as parcerias feitas entre empresas de capital nacional e fabricantes estrangeiras, que deram origem aos primeiros carros montados no Brasil –os veículos eram importados em partes. Uma dessas foi a Varam Motores S.A., de São Bernardo do Campo, que é citada em diversos textos entre os anos de 1946 e 1951. Era o embrião da indústria automotiva nacional.

“Será um pequeno carro verdadeiramente popular, o primeiro automóvel brasileiro de passageiros”, dizia a manchete da Folha da Manhã em 20 de julho de 1956. Era o anúncio do Romi-Isetta, que foi lançado oficialmente no dia 5 de setembro daquele ano.

Com 2,28 metros de comprimento, a versão brasileira do carrinho nascido na Itália era feita em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, pela Indústrias Romi S.A.

Naquela época, o setor era presença constante na capa do jornal. O Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek concedeu incentivos ao segmento no país, para estimular a industrialização.

“Numerosos planos de produção foram enviados ao Grupo Executivo da Indústria Automobilística”, dizia a manchete da Folha da Manhã em 26 de agosto de 1956. A produção sob o novo regime automotivo ganhou corpo em 1957.

A Folha acompanhou todas as mudanças na indústria nacional, com diferentes planos de benefícios tributários, evoluções tecnológicas, investimentos, cortes em massa, fechamento e reabertura do mercado.

Mostrou ainda os principais veículos lançados e, a partir dos anos 1990, passou a medir o desempenho e o consumo dos carros em parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia.​

O setor voltou às capas da edição impressa neste ano de centenário, mas por um motivo oposto ao de 65 anos atrás. “Ford fechará suas fábricas no Brasil”, dizia a manchete do dia 12 de janeiro. Se no passado o tema era o nascimento da indústria, hoje é a desindustrialização.

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