Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Após 500 dias de fábricas fechadas, Ford busca refazer imagem e contrata engenheiros

Montadora lançou oito carros no país desde 2021, todos acima de R$ 200 mil

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A mensagem da assessoria de comunicação da Ford chegou às caixas de email pouco após as 16h do dia 11 de janeiro de 2021. Era o anúncio do fechamento das fábricas no país, que completa 500 dias nesta quarta (25).

"Ford avança na reestruturação da América do Sul, encerra as operações de manufatura no Brasil e atende clientes com nova linha de produtos", dizia o título do comunicado.

Desde então, a montadora gastou alguns milhões para desmobilizar suas linhas de produção, investiu na importação e se consolidou como polo global de desenvolvimento de novos produtos, mas sabe que não será fácil recompor sua imagem local.

Ford Ranger Black
Importada da Argentina, picape Ford Ranger Black foi primeiro veículo lançado após fechamento das fábricas no Brasil - Divulgação

"É claro que tudo isso é um processo doloroso, que envolve pessoas, mas hoje temos um modelo de negócio implantado que está em dia com a nossa visão do mercado daqui para frente", diz Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul.

Passado o período de forte desgaste da imagem devido ao fechamento das fábricas e de consolidação dos acordos trabalhistas, a empresa norte-americana segue seu processo de reestruturação no Brasil.

O passo mais recente foi a negociação da fábrica de Taubaté (interior de São Paulo). A nova dona será a construtora São José Desenvolvimento Imobiliário, que já havia adquirido a planta de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). O processo deve ser concluído em até 90 dias, após a aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

E, de fato, há uma nova linha de produtos. Foram oito lançamentos desde janeiro de 2021, sendo duas versões da picape Ranger, que é produzida na Argentina. A opção mais recente é a FX4, que custa R$ 292,9 mil.

O modelo mais caro apresentado neste período foi o esportivo Mustang Mach 1, hoje anunciado por R$ 553,1 mil. Nenhum veículo à venda pela Ford no Brasil custa menos de R$ 200 mil atualmente.

A estratégia de reduzir volumes e melhorar a rentabilidade é global. A Ford deixou de produzir milhões de carros compactos mundo afora, mas vê os números melhorarem.

O faturamento na América do Sul no primeiro trimestre ficou em US$ 579 milhões (R$ 2,78 bilhões), uma alta de 32,8% sobre o mesmo período de 2021.

Os carros são exibidos em concessionárias renovadas, mas em menor quantidade. Hoje são 106 lojas –eram 280 em janeiro de 2021. É um número compatível com as vendas atuais da montadora.

Entre janeiro e abril, a Ford comercializou 5.413 unidades no Brasil, segundo dados da Fenabrave (associação dos distribuidores). É uma queda de 72,6% em comparação ao mesmo período de 2021, quando havia os compactos Ka e EcoSport em estoque.

As últimas unidades da linha nacional permanecem sendo atendidas em garantia. Componentes de reposição para esses carros estão armazenados em um enorme galpão logístico localizado na cidade paulista de Cajamar (SP).

Parte do maquinário foi repassado a fornecedores. Rogelio Golfarb explica que houve ainda a produção de um grande volume de componentes para estocagem, algo necessário para atender à frota circulante. No fim de 2020, o Ka era o quinto carro de passeio mais vendido do Brasil. "O fato de fecharmos as fábricas não elimina o compromisso com esses consumidores", diz o executivo.

Tanto o Ka como o EcoSport eram produzidos em Camaçari (BA). A antiga fábrica segue fechada e a região foi fortemente afetada pelo fim da produção. Mas a Ford manteve investimentos na Bahia, agora concentrados na área de engenharia.

Nesta terça (24), a empresa anunciou a contratação de 500 engenheiros para sua área de pesquisa e desenvolvimento, e a maior parte vai trabalhar nas instalações da empresa em Salvador. A nova sede regional fica no Cimatec Park, que integra o complexo do Senai.

Ao todo, a Ford tem 1.500 engenheiros no Brasil. Eles passam a maior parte do tempo dedicados ao desenvolvimento de produtos globais, mas trabalham também na adaptação dos modelos importados para o mercado brasileiro.

No momento, o veículo que passa por esse processo é a picape grande F-150, que foi apresentada na edição 2022 da Agrishow, realizada há um mês em Ribeirão Preto (interior de São Paulo). O novo utilitário chega ao Brasil em 2023 com foco no agronegócio. O preço deverá se aproximar dos R$ 500 mil.

A marca prepara ainda a estreia do Mustang Mach E, que vai marcar sua entrada no segmento de veículos elétricos no Brasil. Como se vê, a linha de passeio seguirá elitizada, o que exige um novo padrão de atendimento.

Rogelio Golfard diz que a nova estratégia tem maior foco no consumidor e na conectividade. Esse caminho contempla também a divisão de veículos de trabalho, em que a Ford Transit é oferecida em versões de carga e de passageiros.

Essa van é produzida no Uruguai, em parceria com a Nordex. É um modelo de negócio que tem se tornado comum: montadoras estabelecem contratos com empresas terceirizadas para reduzir custos operacionais e ganhar escala.

O vice-presidente não descarta que uma iniciativa como essa possa ser implantada no Brasil, mas diz não haver nada nessa direção atualmente.

"Quando pensamos lá na frente, o nosso foco é o desenvolvimento. Não é o momento de fechar nenhuma porta, nem de criar expectativas. Mas não há nenhum plano de voltar a produzir [no Brasil]."

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