Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Elio Gaspari
Descrição de chapéu

A casa londrina Maggs está numa sinuca

Do jeito que ficaram as coisas, ela vendeu gravuras que haviam sido roubadas da Biblioteca Nacional

Em 2004, Laéssio Rodrigues Oliveira, finório gatuno de obras raras, roubou da Biblioteca Nacional oito gravuras do Recife, pintadas em 1852 pelo alemão Emil Bauch. Ele sustenta que as vendeu ao colecionador paulista Ruy Souza e Silva. Laéssio está na cadeia e Souza e Silva, ex-marido de Neca Setubal, filha do criador do banco Itaú,  nega que tenha comprado as peças, acusando o ladrão de tentar chantageá-lo.

O maior golpe de Laéssio foi a rapina da mapoteca do Itamaraty,  descoberta em 2003. Nesse episódio ele deixou sua marca de conhecedor. No butim estava um mapa de 1631, peça única, de difícil comercialização. Ele a empacotou num canudo e mandou-a por Sedex para a casa do embaixador que dirigia o museu do ministério. O endereço do remetente era o do cemitério São João Batista.

O caso das gravuras já tinha os ingredientes de uma boa história policial quando a ela foi acrescentada por Souza e Silva a informação de que comprou as peças na tradicional casa londrina Maggs, fundada em 1853, famosa por ter vendido o pênis de Napoleão.

O Itaú Cultural forneceu à Folha de S.Paulo dois recibos. Um mostra que no dia 9 de novembro de 2014 Souza e Silva comprou na Maggs um “álbum de gravuras do Brasil” por £ 11 mil, equivalentes a R$ 58 mil. Outro informa que 69 dias depois ele vendeu as obras ao Itaú Cultural por R$ 654 mil.

Diante da denúncia de Laéssio, o Itaú Cultural prontamente entregou as gravuras à Biblioteca Nacional e lá elas foram examinadas por um perito judicial. Um rasgo existente numa delas e vestígios de uma caligrafia existente no verso das peças conferem com imagens arquivadas na Biblioteca.

Do jeito que estão as coisas, a Maggs teria vendido a Souza e Silva gravuras roubadas por Laéssio. O recibo da casa londrina fala em “álbum”. Um antiquário de sua linhagem mantém inventários e poderá especificar melhor o que vendeu, dizendo também como a mercadoria oferecida ao colecionador paulista chegou ao seu acervo.

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