Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Elio Gaspari

Uma viagem a 1962 e uma aula de disciplina

Em setembro, o comandante das tropas do Sul colocou seus quartéis em regime de prontidão

Em 1962 o Brasil estava dividido. Um ano antes a indisciplina dos três ministros militares levara o país à beira de uma guerra civil e João Goulart presidia um regime parlamentarista, dedicando-se a desmanchá-lo por meio de um plebiscito que restabeleceria o presidencialismo.

O Congresso remanchava e em setembro o comandante das tropas do Sul, general Jair Dantas Ribeiro, colocou seus quartéis em regime de prontidão e enviou um telegrama ao ministro dizendo que “me encontro sem condições para assumir com êxito e segurança a responsabilidade do cumprimento de tais missões, se o povo se insurgir pela circunstância de o Congresso recusar o plebiscito”. No melhor estilo do digo-mas-não-digo, acrescentou: “A presente explanação não é uma ameaça, nem uma imposição, 
mas apenas uma advertência”.

No mesmo dia o comandante da guarnição do Paraná mandou-lhe um telegrama: “Informo V. Excia. reina completa calma território esta Região Militar. Providenciada ordem prontidão”. Xeque.

Meses depois Jair Dantas foi nomeado ministro e foi à forra com o general do Paraná, mandando-o para o último canil do Exército, a Diretoria da Reserva.

O general do Paraná chamava-se Ernesto Geisel, não assinava manifesto contra o governo (“indisciplina”), nem a favor (“chefe não pode receber solidariedade de subordinado”).

No dia 31 de março de 1964 deu-se o levante contra Goulart. Jair era ministro e estava hospitalizado. No dia seguinte  telefonou a Goulart, abandonando-o.

Geisel tornou-se chefe da Casa Militar do novo governo e em 1974 assumiu a Presidência da República. Nunca assinou manifestos e restabeleceu o primado da Presidência da República sobre as Forças Armadas.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.