Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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A lição de Pedro Parente para os sábios

Quem desafiou a "realidade brasileira" foram Temer, sua ekipekonômica e a claque belga que os aplaudia

Na entrevista teatral e inútil que os ministros deram na quinta-feira, o doutor Carlos Marun defendeu a capitulação do governo diante da suposta greve dos caminhoneiros. Referindo-se ao que denominou de "realidade brasileira". Teve toda a razão, mas essa realidade está aí há 518 anos.

Pedro Parente, presidente da Petrobras, tomou posse em 2016 afirmando que a política de preços da companhia não teria mais influência do governo
Pedro Parente, presidente da Petrobras - Reuters

Em 2013 o prefeito Fernando Haddad aumentou as tarifas de ônibus e foi para um evento em Paris com o governador Geraldo Alckmin. Numa esticada noturna, cantaram "Trem das Onze". Deu no que deu. O economista Edmar Bacha, conselheiro econômico do candidato Alckmin, cunhou a expressão Belíndia. Hoje se vê que os economistas belgas precisam aprender a viver com a realidade da Índia.

A política de preços da Petrobras estava certa. O que faltou foi combinar com os russos, com o setor de transporte de cargas rodoviárias, com as empresas e, finalmente, com os motoristas de caminhão. Faltou sobretudo acautelar-se. Perplexos, os belgas acordaram na Índia.

Pedro Parente foi satanizado até mesmo pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que o acusou de "arrogância" e pediu sua demissão. O senador Eunício Oliveira (MDB-CE) seguiu na mesma linha, e o candidato a presidente Henrique Meirelles, corifeu do liberalismo de Temer, foi gloriosamente evasivo.
Pedro Parente fez o que devia como presidente da Petrobras. Quem desafiou a "realidade brasileira" foram Temer, sua ekipekonômica e a claque belga que os aplaudia.

 

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