Começa a circular nesta semana o livro "Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil", do jornalista Antonio Gois. Ele entrevistou treze ex-ministros da Educação, de Eduardo Portella (1979-1980) a Renato Janine Ribeiro (2015). Todas as entrevistas estão na rede, no site Observatório da Educação, do Instituto Unibanco.
No espaço de uma geração a percentagem do PIB investido na educação pública aumentou de 2,9% para algo em torno de 5,6%, e a de crianças de 4 a 14 anos fora da escola caiu de 35% para 7%. O analfabetismo adulto foi de 25% para 8%.
Como seria natural, todos os ministros falam bem de si próprios, mas três personagens brilham. O primeiro é o professor Murilo Hingel, o esquecido colaborador de Itamar Franco (1992-1994). Ele foi o responsável pela descentralização intelectual de um ministério "inadministrável", nas palavras de Eduardo Portela, um paquiderme chamado "Ministério da Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia", onde se pensava que Brasília mandava nisso tudo. Para começo de conversa, Hingel descentralizou a merenda escolar.
Entre outras iniciativas felizes, a administração de Paulo Renato Souza (1995-2002) criou os exames federais que permitem avaliar o desempenho das escolas. (Paulo Renato morreu em 2011.)
Graças à existência do Enem, na gestão de Tarso Genro foi possível a criação do ProUni. Na sua narrativa está o melhor momento do livro. Ele teve a oposição da esquerda, da UNE, da academia e dos plutocratas do ensino privado. Ao completar 10 anos, o Prouni concedeu 1,5 milhão de bolsas.
Para se ter uma ideia do que é o Prouni, numa década, a GI Bill de Franklin Roosevelt concedeu 2,2 milhões de bolsas. Atribui-se a essa iniciativa o nascimento da classe média americana da segunda metade do século passado.
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