Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Uma boa notícia: Elizabeth Warren

Nunca um grande partido dos EUA teve candidato tão crítico dos privilégios e das mumunhas do andar de cima

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Elizabeth Warren poderá ser a candidata do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Numa pesquisa que mediu as preferências dos eleitores da primeira prévia do ano que vem, ela bateu o ex-vice-presidente Joseph Biden. Em sete outras, em seis ela derrota Donald Trump e numa empata. "Ele é essencialmente corrupto", diz.

A candidatura da senadora pelo Massachusetts tem uma luminosa originalidade. É mulher, mas nada deve ao marido. Chegou ao Senado sem jamais ter disputado uma eleição, catapultada pela ferocidade com que denunciou os privilégios e as maracutaias da banca.

Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à Presidência dos EUA, fala em evento no estado de Iowa no último dia 21
Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à Presidência dos EUA, fala em evento no estado de Iowa no último dia 21 - Scott Olson/AFP

Para Wall Street ela é uma bruxa perfeita e acabada. Conhece Washington com o olhar do andar de baixo porque esteve numa comissão da Câmara e criou a Agência de Proteção Financeira do Consumidor.

Sua bandeira era simples: se você compra uma torradeira e ela bota fogo na sua cozinha, existem agências do governo a quem você pode se queixar. Se você compra uma casa e vai à bancarrota, não tem para quem reclamar. Estudando a lei das falências pelo lado dos fracos, acabou tornando-se professora da Universidade Harvard.

Para chegar à Casa Branca, a senadora Warren precisa criar uma onda semelhante à que elegeu Barack Obama em 2008, e isso pode acontecer. Em 2007, um ano antes da eleição, Hillary Clinton batia Obama por 40 a 28. Deu no que deu.

Na semana passada Warren discursou por quase uma hora (mais quatro de selfies) na Union Square, em Nova York. Se em 2008 Obama foi à ponte de Selma, onde em 1965 a polícia botou cachorros em cima dos negros, ela foi mais contundente e atual.

Lembrou que na tarde do dia 25 de março de 1911, uma senhora tomava chá naquela praça, quando a poucos quarteirões dali pegou fogo o prédio onde centenas de mulheres trabalhavam numa confecção. 

As portas para as escadas estavam fechadas e 146 pessoas morreram queimadas, algumas atiraram-se das janelas. A mulher que tomava chá e viu as cenas chamava-se Frances Perkins. Ela se tornou a campeã da reforma das relações trabalhistas nos Estados Unidos. Em 1933 o presidente Franklin Roosevelt nomeou-a secretária do Trabalho e, sempre de chapéu, ficou no cargo até 1945.

Perkins morreu em 1965, aos 84 anos, sem patrimônio, enxergando mal e ouvindo pouco. Nessa época, Elizabeth Warren era uma adolescente que vivia no Oklahoma, numa família de classe média estruturada e arruinada. Seu pai tornara-se zelador de um edifício e a mãe foi trabalhar numa loja. Ela era garçonete 
e costurava para as tias.

Elizabeth conseguiu uma bolsa de estudos para cursar a faculdade e foi a primeira de sua família a conseguir um diploma de curso superior, de fonoaudióloga. Só mais tarde tornou-se advogada.

A presença de Elizabeth Warren na disputa pela Presidência dos Estados Unidos será uma lufada de inteligência num tempo de debates com personagens medíocres. Mais que isso: nunca um grande partido americano teve candidato tão crítico dos privilégios e das mumunhas do andar de cima. Em 2012 ela arrecadou US$ 42 milhões na sua campanha para o Senado —80% das doações foram de até US$ 50.

Serviço: A autobiografia de Warren —“Uma Chance de Lutar”— está nas livrarias. Lá se aprende muito, inclusive que ela nunca pensou que viraria loura e que se apaixonou pelo marido porque ele tinha bonitas pernas.

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