Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Os lençóis da Casa de Windsor

A vida real compete com a ficção do seriado 'The Crown'

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Numa perfídia dos deuses, enquanto a Netflix mostra mais um episódio de “The Crown”, estão no ar as lambanças do príncipe Andrew, o duque de York, terceiro filho da rainha Elizabeth. É como se a vida real competisse com a ficção, mas, olhando-se bem, a história é uma só.

Andrew foi banido da família real porque frequentava a roda de um americano bilionário e cafetão que se matou na cadeia. “The Crown” já sugeriu que a rainha teve um caso com o chefe de suas cavalariças, Lord Porchester, ou “Porchie”. 

Em 1991 o jornalista Christopher Hitchens escreveu no New York Times que, segundo um cronista da família real, basta olhar para uma fotografia de Andrew e outra de “Porchie” para se perceber que dificilmente o príncipe Philip é seu pai. Assim como basta olhar para o cabelo de Harry para se ver que Charles não foi seu pai. (Coisa que ele teria percebido na maternidade, ao ver o bebê ruivo.)

Rainha Elizabeth olha um documento, em Londres.
Rainha Elizabeth olha um documento, em Londres. - Tolga Akmen /Reuters

Na vida real, os lençóis da casa Windsor serviram ao roteiro de “The Crown”: A princesa Anne (filha da rainha) namorou Andrew Parker Bowles, que namorava Camila Shand, cuja avó namorou o avô do príncipe Charles, que ela passou a namorar. Na próxima série Charles vai se casar com Diana, que não havia namorado ninguém, enquanto ele continuou namorando Camila, com quem está casado, e ela foi em frente.

A série que está no ar perdeu a sutileza das anteriores. Numa cama de Tony Armstrong-Jones, futuro marido da princesa Margaret, viram-se cinco pernas. Agora, a senhora (uma jararaca) aparece beijando o presidente americano Lyndon Johnson, coisa que nunca aconteceu. Lord Mountbatten também não foi tão longe na armação do golpe de Estado contra o primeiro-ministro Harold Wilson. Apesar do grande desempenho do ator Josh O’Connor, ele está exageradamente abobalhado.

Até o reinado de Elizabeth os Windsor metiam-se em trapalhadas, mas evitavam picaretagens e promiscuidades explícitas como aquelas em que se meteram Andrew e sua primeira mulher, Sarah Ferguson.

Pelo visto, a próxima série de “The Crown” será animada pela entrada em cena de Diana. Com alguma sorte, poderá mostrar a nobreza dos plebeus. Nenhum dos três namorados de Kate Middleton antes de seu casamento com o príncipe William abriu a boca, e um deles é jornalista. 

Doria 2.0

Depois de ter desembarcado do módulo lunar em que estava no domingo, quando falou das mortes de Paraisópolis, o governador João Doria disse que vai revisar protocolos e treinamentos da Polícia Militar.
Tudo bem, mas o que acontece nos bairros pobres das cidades brasileiras não pode ser atribuído à falta de protocolos ou de treinamentos. Pelo simples fato de que eles não se repetem em bairros como o Jardim Europa, onde mora o doutor.

É útil relembrar o que disse o professor Edward Peters a respeito de uma modalidade de violência do Estado: “O futuro da tortura depende do futuro do torturador”.

Trump

Se Bolsonaro tivesse chanceler, quando o Departamento de Estado nomeou um diplomata de carreira para a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, teria percebido que países não 
têm amigos, mas interesses.

Quando o capitão resolveu indicar seu filho Eduardo para a embaixada em Washington, houve quem acreditasse que Donald Trump mandaria um de seus filhos para Brasília. Era delírio.

Leia outras notas da coluna deste domingo (8):

Um jabuti gigante olhando para Bolsonaro ​

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