Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Declarações de Guedes revelam o destempero pessoal de uma mente autoritária e ególatra

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O "Posto Ipiranga" colocou-se num processo de autofritura. Suas declarações demófobas contra as mulheres que trabalham nas casas dos outros e os servidores públicos revelam o destempero pessoal de uma mente autoritária e ególatra.

Deixando-se de lado a retórica de Paulo Guedes (o que não é pouca coisa), o maior problema da quitanda do ministro está na entrega de berinjelas à freguesia.

A contração da indústria e a queda das vendas do varejo em dezembro são fatos reais. Os servidores poderiam ser parasitas e as domésticas poderiam ser proibidas de ir à Disney e a economia continuaria andando de lado. Se isso fosse pouco, Mansueto Almeida, o quadro mais qualificado de seu ministério, está com um pé e a alma fora do governo.

Guedes acumulou poder anexando órgãos da administração pública. O oposto do que fez Delfim Netto, o mais poderoso ministro da Fazenda dos últimos cem anos. Delfim nunca anexou repartições. Ele colocava seus valets nos postos chave e operava das 6h à meia-noite. Além disso, era coloquial até mesmo quando enrolava a audiência (na crise da dívida, por exemplo). Aulas como as do seminário ambulante de Paulo Guedes, Delfim nunca deu.

A fritura de Guedes tem aspectos de uma autocombustão. A reforma tributária do ministro tornou-se um Rolls-Royce sem motor, lindo quando parado, mas sem a CPMF. A administrativa foi envenenada numa proeza de Asmodeu. Ele conseguiu viciar uma discussão sobre algo que não afetará os servidores que estão em atividade hoje. Sabendo-se que a máquina pública funciona mal, travar essa discussão equivale a dizer ao doente que ele não deve pensar em ir a um hospital.

Guedes, como todo "Posto Ipiranga", está em cima de um depósito de combustível e, ao contrário do que dizia Tiririca, pior fica.

BOAS NOTÍCIAS

Nas próximas semanas chegará às livrarias "Capitalismo na América", de Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed, em parceria com o jornalista Adrian Wooldridge. São 460 páginas com uma história dos Estados Unidos de Cristovão Colombo a Donald Trump.

É uma exaltação erudita e documentada do capitalismo criador e destrutivo dos Estados Unidos. Só Alan Greenspan poderia assinar uma de suas frases, referindo-se a Alexander Hamilton, o primeiro formulador da grandeza econômica do país: "Ele era um gênio nato do calibre de Mozart e Bach".
(Hamilton morreu num duelo em 1804 e seu túmulo está no cemitério da igreja de Trinity, na entrada de Wall Street. Vale a visita.)

"Capitalismo na América" não tem índios, negros, pobres, nem mulheres. Daí a segunda boa notícia, pois ainda neste ano, ou no início de 2021, sairá a tradução de "These Truths" (Essas Verdades), da professora Jill Lepore. Ela conta a mesma história, vista do andar de baixo.

Para os agrotrogloditas, um petisco de Greenspan: "No Brasil colonial, o governo distribuía porções gigantes de terras para grandes proprietários. Na América capitalista ele distribuía terras entre pessoas comuns com a condição de que cultivassem o solo".

 

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e achou ótima a ideia de criar um Conselho da Amazônia sem a participação dos governadores da região. Ocorreu-lhe a ideia de criação de outro conselho, encarregado de tudo, sem conselheiros. 

Outra hipótese seria preencher os lugares com notáveis. O Conselho Geral teria o Padre Feijó, o marechal Floriano Peixoto, o Barão do Rio Branco, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves.

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