Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Comparar operação contra fake news à Noite dos Cristais é confundir hemorroida com hemograma

Weintraub tomou contravapores da embaixada de Israel, do Comitê Judaico Emeriano e da Confederação Israelita

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O ministro da Educassão, Abraham Weintraub, comparou a operação contra os financiadores da máquina de mentiras do bolsonarismo à "Noite dos Cristais" de 1938, quando os nazistas queimaram centenas de sinagogas, destruíram milhares de lojas e mataram pelo menos 90 judeus. Weintraub tomou contravapores da embaixada de Israel, do Comitê Judaico Emeriano e da Confederação Israelita por banalizar o antissemitismo que desembocou no Holocausto. Comparar as duas situações é confundir hemorroida com hemograma.

Nos seus delírios, o ministro pratica uma ignorância seletiva. Na tétrica reunião do ministério de 22 de abril ele ouviu seu colega Paulo Guedes dizer que conhece "profundamente, no detalhe, não é de ouvir falar" diversos programas de reconstrução econômica, entre eles os da "Alemanha na Segunda Guerra e na Primeira, com o Schacht".

Para uma mente sensível como a de Weintraub, a lembrança de Guedes tinha um aspecto politicamente tóxico. A Primeira Guerra terminou em 1918 e Hjalmar Schacht assumiu a presidência do Reichsbank em 1923. Nesse cargo ele estabilizou a moeda alemã. Em 1930, quando a dívida do país estrangulava sua economia, ele avisou que "se o povo alemão tiver que passar fome, teremos muitos Adolf Hitler". Não deu outra e em 1933 Hitler assumiu o governo. Quindim da banca, Schacht era um coletor do Caixa Dois dos nazistas e um ano depois, quando o ministro das Finanças reclamou da perseguição aos judeus, ele o substituiu. Soltou dinheiro para obras públicas e para o rearmamento do Reich.

Ele deixou o comando da economia antes da Noite dos Cristais, mas continuou como ministro sem pasta até 1943 (a Solução Final do extermínio dos judeus foi decidida em 1942).

Schacht foi um alemão emblemático de sua geração, que não sabia o que estava acontecendo. Ele começou a vida no Dresdner Bank, da família Gutmann, e não moveu um dedo quando ela começou a ser perseguida. A baronesa Louise morreu em Auschwitz e seu marido, Fritz, foi assassinado no campo de Theresienstadt. Schacht foi absolvido pelo tribunal de Nuremberg, que enforcou uma parte da cúpula civil e militar do nazismo, e morreu em 1970, aos 83 anos. Sua mulher usava um broche um uma suástica de rubis e brilhantes.

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