Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Um dia se saberá o que aconteceu na Anvisa nesta semana que passou

Instituto Butantan alertou no dia 6 de novembro que morte de voluntário não tinha a ver com o teste da vacina

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Um dia se saberá o que aconteceu na Anvisa entre as 15h e as 21h25 de segunda-feira (9), quando ela suspendeu os estudos clínicos que avaliavam a Coronavac. Uma rede de computadores fora do ar e uma comemoração de Jair Bolsonaro transformaram um suicídio numa lastimável tempestade de proveta.

A polícia achou o corpo do voluntário na tarde de 29 de outubro. No dia seguinte, uma sexta-feira, o centro de pesquisas do Hospital das Clínicas informou à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a Conep, e ao Instituto Butantan.

O diretor presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, durante coletiva de imprensa para falar sobre a interrupção dos testes da Coronavac após evento adverso na pesquisa - Folhapress/Pedro Ladeira

O médico Jorge Venâncio, coordenador da Conep, disse à repórter Constança Tatsch que conversou com pesquisadores “duas vezes por dia” e decidiu não suspender os testes. Ele explicou porque: “O voluntário tomou a segunda dose da vacina 22 dias antes, não tinha nenhum problema de saúde e chegou a fazer um check-up particular, com uma batelada de exames, pouco depois”.

Numa outra pista, correu a notificação do Instituto Butantan à Anvisa. Ela foi emitida no dia 6 de novembro, informando na sua parte conclusiva que a morte do voluntário não tinha a ver com o teste da vacina. Segundo a agência, seu sistema de computadores estava fora do ar e a comunicação do dia 6 não havia sido lida.

Às 15h do dia 9, segunda-feira da semana passada, a Anvisa pediu ao Butantan informações sobre os “eventos adversos graves inesperados” ocorridos desde 30 de outubro.

Segundo uma cronologia divulgada pelo Butantan, às 18h13 o pedido foi reiterado e, 11 minutos depois, as informações que haviam sido mandadas no dia 6 foram reenviadas. Os fatos que subsidiaram a decisão da Conep estavam todos lá. Só faltava a palavra suicídio. Segundo uma linha do tempo da Anvisa, ela chegou “sem nenhum detalhe”.

Às 20h47 a Anvisa convocou a equipe do Butantan para uma reunião de emergência no dia seguinte, sem agenda especificada.

No entanto, 13 minutos depois, outra mensagem da Anvisa suspendeu os testes daquilo que Bolsonaro chama de “a vacina chinesa do governador João Doria”.

Às 21h25 a Anvisa informou que suspendera os estudos clínicos da Coronavac.

Por motivos que podem ser compreensíveis, durante três dias a Anvisa ficou fora do lance, mas, como ela revelou, sabia “por meio de contato informal com o Ministério da Saúde e com a Conep” que um “evento adverso grave teria ocorrido”. Entre as 15h e as 21h25 criou-se uma crise sanitária, alavancada no dia seguinte pelo capitão, que viu na sua decisão “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

Na sua entrevista de terça-feira (10), o contra-almirante Antonio Barra Torres que é médico, repetiu à exaustão que fez tudo de acordo com o manual e que a decisão foi dos técnicos, funcionários de carreira. O diretor do Butantan, Dimas Covas, reclamou: “Um telefonema teria resolvido”. Juntando-se as peças, a Anvisa revelou que soubera “informalmente” da ocorrência de um “evento”. Ela, que estivera fora do ar, decidiu suspender os testes sem falar com o Butantan e muito menos com a Conep, que avaliara o caso.

Barra Torres fez tudo pelo manual, que não prevê telefonemas. Aparecer numa manifestação diante do Palácio do Planalto à qual incorporou-se o presidente Bolsonaro também não seria coisa do manual, mas deixa pra lá.

Achando que fazia seguia o manual, em 1941, o comandante da frota americana do Pacífico menosprezou as advertências que lhe chegavam sobre a possibilidade de um ataque japonês e deixou parte de seus navios atracados na base de Pearl Harbor. Na manhã de 7 de dezembro, de uma janela, viu o ataque. A sorte tinha mandado três porta-aviões ao mar. Dez dias depois o almirante Kimmel perdeu o comando e duas das quatro estrelas que tinha

Houve aviso

Paulo Guedes está frustrado por não ter conseguido privatizar coisa alguma. Nem a estatal do Trem-Bala o governo Bolsonaro conseguiu fechar. Aviso não faltou. Antes mesmo da posse o economista Mansueto Almeida avisou-o que suas metas de privatizações, eliminação do déficit e venda de imóveis da União eram voo de anjo.

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