Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Os enganos de Paulo Guedes são seletivos

Ministro gostaria de viver no mundo de professores da Universidade de Chicago, onde se formou

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O ministro Paulo Guedes informou à CPI da Covid que não destinou recursos específicos para o combate ao coronavírus no projeto da lei orçamentária porque "não se vislumbrou a continuidade bem como o recrudescimento da pandemia da Covid-19 no patamar atingido em 2021": "Achávamos que a pandemia estava acabando não por má-fé, foi um engano".

Põe engano nisso. Neste ano já morreram mais de 273 mil pessoas, contra 194 mil em 2020. Pode-se aceitar a boa-fé do doutor, mesmo sabendo-se que é o sumo sacerdote da economia num governo cujo presidente falou em "gripezinha", decretou o "finalzinho" da epidemia e chamou de "conversinha" a possibilidade da chegada de uma segunda onda. O próprio "Posto Ipiranga" mostrou, em abril de 2020, que acreditava em lorotas. Ele falou de um amigo inglês que oferecia 40 milhões de testes por mês.

Os enganos de Paulo Guedes são seletivos. Numa reunião pra lá de esquisita do Conselho de Saúde Suplementar, contou a história do filho de seu porteiro, que tirou zero no exame de uma universidade privada e conseguiu um empréstimo do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, o Fies.

Esqueceu-se de datar o episódio. Ele só pode ter ocorrido antes de 2015, quando o ministro Cid Gomes acabou com essa mamata das universidades privadas. Era coisa daqueles que Guedes chamava de "criaturas do pântano político, piratas privados e burocratas corruptos, associados na pilhagem do Estado".

Na reunião do Conselho de Saúde Suplementar, Guedes ouviu os pleitos das operadoras de medicina privada que articulam um avanço contra os recursos do SUS e o bolso de seus clientes. Trata-se de uma armação que rolou em segredo, foi denunciada, encolheu e ressurgiu no escurinho da pandemia.

Paulo Guedes, como muita gente boa, apresenta-se como um campeão da iniciativa privada e demoniza a ação do governo, capaz de criar maluquices como o Fies original. Sem os "piratas privados", ele nunca teria existido, mas os maganos continuam aí, apoiando o governo.

Guedes gostaria de viver no mundo de professores da Universidade de Chicago, onde se formou. Pena que a Chicago onde ele se meteu seja outra.

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