Lembra-se daquele pato amarelo que ficava em frente à Fiesp durante as jornadas de manifestações contra o comissariado petista? O doutor Paulo Skaf, que ainda preside a instituição, poderia recolocá-lo na calçada da avenida Paulista. Ou poderia pendurar seu plástico murcho na fachada.
Quem imaginou a Fiesp de Skaf pedindo qualquer coisa que desagrade ao governo, inclusive democracia, comprou um lote na Lua. O texto que ele segurou informa que o triângulo tem três ângulos.
Desde o século passado, quando o grão-senhor da “Poderosa” operava uma caixinha que em tese financiava o DOI-Codi, a Fiesp é um apêndice do poder. Como o sapo de Guimarães Rosa, não faz assim por boniteza, mas por precisão. Ela é cevada pelos recursos que o Sistema S suga das folhas de pagamento das empresas.
Como São Paulo tem indústrias, chegou-se a pensar que de lá sairia algum documento, ainda que morno. A federação do Rio de Janeiro antecipou-se à Fiesp, anunciando que não endossaria manifesto algum. Pudera, muitas federações e poucas indústrias os males do Rio são.
O vexame da Fiesp seria mais um capítulo na sua crônica de subserviência e oportunismo, mas foi um marco na história do empresariado nacional.
No mesmo dia em que ela se encolheu, sete entidades do agronegócio divulgaram um manifesto onde disseram o seguinte:
“O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham”.
No final do século passado, quando começou a abertura da economia brasileira, a indústria encaramujou-se no protecionismo, enquanto o setor cosmopolita da agricultura e da pecuária foi à luta, modernizando-se e tornando-se competitivo. Cresceu e hoje representa cerca de 27% do PIB nacional. A indústria encolheu e arrisca cair para a casa de um só dígito.
A agricultura e a pecuária brasileira estão contaminadas por agrotrogloditas que formam uma milícia bolsonarista e fazem passeatas de tratores. Há 30 anos eles poderiam ser maioria, mas mudaram. Novamente, como o sapo, por precisão.
Tome-se o exemplo de Blairo Maggi, um dos empresários de maior sucesso nesse setor. Bilionário, foi ministro da Agricultura e governador de Mato Grosso. Em 2005 a ONG Greenpeace concedeu-lhe o prêmio Motosserra de Ouro.
Desde o primeiro momento dos delírios bolsonaristas, Maggi dissociou-se dos agrotrogloditas. Mostrava que as bravatas piromaníacas nenhum benefício traziam para os empresários.
Há poucas semanas, quando o pitoresco Sérgio Reis falou em invadir o Senado, com o apoio do presidente de uma associação de plantadores de soja, Maggi foi rápido: “[Ele] não pode usar a associação para isso. (...) Tem o direito de ir (à manifestação de 7 de Setembro), mas não pode falar em nome da entidade. Para isso, precisaria submeter o assunto a uma assembleia e conseguir o apoio da maioria”.
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