Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Elio Gaspari

Sergio Moro precisará se reinventar

Do juiz da Lava Jato sobra pouca coisa

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Em 2017, no apogeu da Operação Lava Jato, o juiz Sergio Moro parecia ter tudo para disputar a sucessão de Michel Temer. Pela primeira vez na história da República, havia mandado para a cadeia grandes empresários e um ex-ministro da Fazenda que se revelaram criminosos confessos. Condenou o ex-presidente Lula que foi para o cárcere protestando inocência. Com a ajuda de um tuíte do comandante do Exército, evitou-se que o Supremo Tribunal Federal lhe concedesse um habeas corpus.

Aquele juiz desconhecido de Curitiba surpreendeu o país. Passou o tempo e ele produziu novas surpresas. Divulgou a colaboração do comissário Antonio Palocci às vésperas da eleição de 2018 e, poucos meses depois, aceitou o cargo de ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, que haveria de fritá-lo.

Entre o apogeu e o ocaso, a própria Operação Lava Jato teve expostas algumas de suas truculências e umas poucas boquinhas. Passou o tempo, Lula prevaleceu em mais de uma dezena de processos, enquanto o juiz de Curitiba teve sua parcialidade apontada pelo Supremo Tribunal Federal. A Lava Jato revelou-se um desengano, se acabou na quarta-feira e pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se sorri.


Depois de uma temporada numa banca americana de litígios, Moro está no Brasil, conversando em torno da hipótese de vir a ser candidato na eleição do ano que vem.

Ele enriquecerá o debate, mas para isso terá que se reinventar, pois o juiz de Curitiba empobreceu a luta contra a corrupção em Pindorama. Seus meios revelaram-se catastróficos e sua ida para o governo de Bolsonaro tisnou-lhe a biografia. Seu silêncio desde que deixou o ministério agravou essa situação.

Muitos anos antes de se tornar um exemplo de moralidade, Moro se apresentava como alguém capaz de destruir um sistema político azeitado pela corrupção. Veio, viu e perdeu. O governo que ajudou a eleger gravita em torno das mesmas figuras que davam (e recebiam) as cartas antes da Lava Jato.

Para que aquele juiz de Curitiba se apresente, reinventado, como um nome que encarne o que se chama de terceira via, o doutor precisa dizer para onde vai essa via. O ponto final da rota do último Moro foi o fenômeno Jair Bolsonaro, com seus subsidiários, como o juiz carioca Wilson Witzel.

Na sua fase de esplendor, Moro parecia reeditar a Operação Mãos Limpas da Itália. Seu críticos lembraram que a “Mani Pulite” produziu Silvio Berlusconi, um palhaço corrupto. A bem da justiça deve-se registrar que nenhum dos juízes italianos aninhou-se no governo do histrião. Moro tornou-se ministro da Justiça de Bolsonaro e deixou-se fritar em relativo silêncio.

Em 2022, como em 2017, pode-se fazer de tudo por Sergio Moro, menos o papel de bobo.

Leia mais textos da coluna de Elio Gaspari deste domingo (17)

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