Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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PT subiu num salto alto à sua maneira

Partido calçou modelos com alturas diferentes em cada pé, que atrapalham numa campanha eleitoral

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O PT subiu num salto alto à sua maneira. Num pé calçou um modelo Sabrina, no outro, um Stiletto. Como eles têm alturas diferentes, incomodam pouco para quem joga sentado, mas atrapalham, e muito, quem tiver que se mover numa campanha eleitoral.

Em menos de um mês, o comissariado amarrou-se a uma incompreensível, porém deliberada, defesa de regimes ditatoriais ditos de esquerda. Primeiro, um comissário saudou a vitória de Daniel Ortega numa eleição que lhe rendeu o quarto mandato à custa da prisão de postulantes. A presidente do PT disse que o festejo não havia passado pelo crivo da direção.

Juliana Freire

Passaram-se semanas e Lula foi confrontado pelo caso nicaraguense por duas entrevistadoras do jornal El País. Numa resposta marota de palanque, bateu no cravo e acertou Ortega defendendo a alternância dos governantes no poder. Na ferradura, lembrou que Angela Merkel ficou 16 anos no poder. Adiante, repetiu o truque ao dizer que a democracia em Cuba depende do fim do bloqueio econômico dos Estados Unidos. Nenhuma das duas coisas tem a ver com a outra.

Nosso Guia foi prejudicado pela retórica de que se vale nos discursos. As repórteres Pepa Bueno e Lucía Abellán, contudo, eram entrevistadoras.

Lula durante evento em Paris - Julien de Rosa-16.nov.21/AFP

Dois dias depois, a ex-presidente Dilma Rousseff participava de um debate sobre o livro "China, o Socialismo do Século 21" e disse o seguinte: "A China representa uma luz nessa situação de absoluta decadência e escuridão que é atravessada pelas sociedades ocidentais."

Internet censurada, partido comunista (o único) controlando empresas e roubalheiras sazonais iluminam pouca coisa, mas se a doutora gosta dessa penumbra, o problema é dela. Mais intrigante foi a contraposição que ela pôs na mesa: a "absoluta decadência e escuridão que é atravessada pelas sociedades ocidentais".

Há sociedades ocidentais que passam por crises. Se algumas podem até estar em decadência, não são todas e, no conjunto, ela não é "absoluta".

Desde que há Ocidente há quem o veja como decadente. Essa ideia popularizou-se a partir de 1918, quando o pensador alemão Oswald Spengler escreveu o seu "A Decadência do Ocidente". Simplificando, ele previa a ascensão ao poder de partidos cesaristas. O doutor morreu em 1936, quando havia césares na Alemanha, Itália e União Soviética. Nove anos depois, viu-se no que deu. Nenhum dos partidos que produziram os césares de Spengler existe hoje.

Há no PT quem concorde com Dilma e Lula, e os dois podem dizer que governaram o Brasil por 13 anos sem agredir e nem mesmo ameaçar as instituições democráticas. O declínio do PT foi influenciado pelos episódios em que se lambuzou. Com poucas exceções, sua ala radical passou pessoalmente incólume pelas lambanças. Isso proporcionou-lhe uma autoridade moral nas discussões internas, mas não resultou numa linha que permita ao PT entrar numa campanha eleitoral com um pé num salto Sabrina e outro num Stiletto.

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