Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Alckmin na vice de Lula

A ideia é fazer um governo de coalizão

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Lula e Geraldo Alckmin estão fechando a aliança e o ex-governador e ex-candidato do PSDB à Presidência será o vice na chapa do petista. Como aliança, é um golpe de mestre. Vacina Lula e recoloca Alckmin no cenário do qual foi afastado por sucessivas derrotas e erros de julgamento.

Na sua origem estaria o interesse de Lula de, uma vez eleito, formar um governo de coalizão, à semelhança da base política que sustentou Angela Merkel na Alemanha. Esse raciocínio teria partido de Lula.

Durante seus oito anos de governo, o líder petista, teve um vice empresário limpo e bem sucedido. José Alencar foi leal e discreto. Quando fazia contraponto ao presidente na política econômica, combinava antes e demarcava limites razoáveis. Alckmin é um político correto e de lealdades acima da média, mas sua biografia não é a de Alencar.

O ex-goernador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula se reencontram em jantar promovido pelo grupo Prerrogativas
O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula se reencontram em jantar - Ricardo Stuckert - 19.dez.21/Divulgação

Daí a ver na aliança algo parecido com a coalizão da Alemanha de Angela Merkel é chamar urubu de meu louro. Em primeiro lugar, porque no Brasil formam-se governos de coalizão, por motivos diametralmente opostos aos da Alemanha. Desde 1985, todos os governos, como o de Bolsonaro, coligaram-se ao centrão, a Valdemar Costa Neto e seu Partido Liberal. Jose Alencar pertencia ao PL.

A essência das coalizões parlamentares brasileiras pouco tem a ver com as europeias. As angústias expostas nos "Diários da Presidência" de Fernando Henrique Cardoso, bem como a crônica do mensalão do governo de Lula estão aí para mostrar porquê.

Se é possível arriscar um julgamento sobre a natureza dos governos de coalizão nacionais, pode-se arriscar que as alianças daqueles que entram em campo condenando a "velha política" acabam sendo as piores.

A necessidade de ampliar a base de apoio parlamentar é um fato da vida. O problema está em demarcar a linha das conce$$ões. Nesse sentido, invocar o santo nome de Angela Merkel equivale a vender um terreno na Lua. Ela governou a Alemanha coligando-se, na boa moda de seu país.

A senhora Merkel era uma cientista da Alemanha comunista quando o Muro de Berlim foi derrubado. Tinha 35 anos e o mesmo corte de cabelo. Entrou na política como protegida do chanceler Helmut Kohl, que a colocou no ministério chamando-a de "minha menina".

Kohl foi o monumental (1,93 m e 90 kg) unificador da Alemanha. Em 1999 estava no seu esplendor quando foi apanhado num caixa dois de campanha eleitoral. Em dezembro, sua "menina" publicou um artigo intitulado "As ações de Helmut Kohl prejudicaram o Partido". Foi o início do fim de um gigante.

Walter Kohl, filho do chanceler, atribuiu em parte à Merkel o suicídio de sua mãe, dois anos depois. (Ela padecia de uma dolorosa doença, mas opinião de filho é opinião de filho.)

Se Lula pretende fazer um governo de coalizão, colocar Geraldo Alckmin na sua vice é um primeiro passo, mas a caminhada é muito mais longa e áspera do que sua própria biografia sugere. A senhora Merkel jamais demitiria um físico da presidência da Eletrobrás, entregando-a a uma banda eletrizante do MDB. Não deixaria também que circulasse como seu um comentário segundo o qual ele não tinha votos no Senado.

Ela nunca faria isso até mesmo porque doutorou-se em física e governou sem a banda elétrica do Congresso, coisa que não existe na Alemanha.

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