Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Descrição de chapéu Rússia

Grandes empresas do agro condenam o avanço nas terras indígenas

Coalizão Brasil Clima afirmou que garimpo ilegal nessa áreas não resolve problemas dos fertilizantes

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Para o bem de todos e felicidade geral da nação, a Coalizão Brasil Clima, que reúne empresas, bancos e associações de agricultores, dissociou-se dos agrotrogloditas e do garimpo ilegal que tentam passar a boiada da mineração em terras indígenas por conta da guerra na Ucrânia.

Na parolagem, o caso é simples: o Brasil precisa de fertilizantes, eles vêm de lá e da Rússia. Cortada a linha de comércio, seria necessário minerar o potássio que está em terras indígenas da Amazônia.

Faz tempo que Jair Bolsonaro fala desse potássio. É um aspecto de sua fixação em metais e produtos mágicos. Na pandemia, cloroquina, fora dela, grafeno e nióbio. Indo mais adiante, uma pesquisa para transmissão de energia por cima da floresta, sem cabos.

Policiais federais atuam em garimpos ilegais na região do rio Crepori, no município de Jacareacanga (PA)
Policiais federais atuam em garimpos ilegais na região do rio Crepori, no município de Jacareacanga (PA) - Pedro Ladeira/Folhapress

A Coalizão Brasil Clima bateu de frente contra esse avanço nas terras indígenas, que tramita em regime de urgência na Câmara. Para evitar que se passe a boiada, ela informa:
"O garimpo em terras indígenas não resolve o problema dos fertilizantes". Dois terços das reservas de potássio estão fora da Amazônia. Nela, só 11% estão em terras indígenas. (...) Se as reservas nacionais começarem a receber investimentos amanhã, a autossuficiência virá depois de 2100.

Mais:
"A Agência Nacional de Mineração conta com mais de 500 processos ativos de exploração de potássio em andamento que poderiam ser viabilizados sem agressão aos territórios dos povos originários."

"A guerra entre Rússia e Ucrânia, portanto, não deve ser um pretexto para a aprovação de um PL que ainda não foi adequadamente debatido pela sociedade e, sobretudo, não foi consultado com as organizações representativas dos povos indígenas, os maiores interessados no assunto."

"A Coalizão Brasil Clima (...) defende que o Congresso volte sua atenção para outra discussão urgente – os diversos obstáculos encontrados no país para a produção de fertilizantes, como a insegurança jurídica, o sistema tributário e outros problemas regulatórios, que faz com que produtos importados sejam mais competitivos do que os nacionais."

No clima do Regresso, querem passar a boiada às custas de guerra. Em 1843 esse mesmo clima negava apoio a uma ferrovia ao mesmo tempo em que desafiava a Inglaterra e amparava o contrabando de negros escravizados trazidos da África. Quase dois séculos depois o governo alavanca os interesses do chamado garimpo ilegal, quando a Polícia Federal sabe e denuncia a associação dessa atividade com o crime organizado. Um amigo desses "garimpeiros" movimentou R$ 125 milhões em três anos.

A quem interessar possa: A Coalizão Brasil Clima reúne mais de uma dezena de associações do agronegócio e algumas das joias do empresariado e associações do agronegócio. Sem que isso signifique apoio de cada uma dessas empresas à posição vocalizada pela instituição, aqui vão algumas delas:
Amaggi, Basf, Bayer, Bradesco, BRF, Brookfield, BTG Pactual, Cargill, Carrefour, Danone, Eucatex, Gerdau, Grupo Boticário, JBS, Klabin, Nestlé, Santander, Suzano e a Vale.

Siga a música

O maestro Herman Makarenko dirigiu uns 20 músicos da Orquestra Clássica de Kiev na praça Maidan, a da Independência, e tocou a "Ode à Alegria" da "Nona Sinfonia" de Beethoven. Esse momento de genialidade tornou-se o Hino da Europa. No frio, tocaram com gorros.

A peça exigiria uns 70 músicos, mais um coral, e valeu mais que uma coluna de tanques.

A cena falou pela alma de um povo. Em julho de 1991, antes do colapso da União Soviética, o engenheiro cibernético Mikhail Izumov aconselhava: "Se você quer achar a democracia em São Petersburgo, siga a música." Parecia licença poética de um desencantado que durante 33 anos estivera filiado ao Partido
Comunista.

A alguns quarteirões de distância da sala onde ele dizia isso ficava o Palácio de Mármore, presenteado por Catarina, a Grande, ao jovem conde Orloff, um de seus favoritos. Depois da revolução, virou Museu Lênin.

Lá estava o carro de onde ele discursou ao retornar à Rússia, em abril de 1917, bem como o Rolls Royce do czar que usava no governo. Tinha cabides para 1.320 sobretudos, mas naquela tarde havia um só visitante.

Em 1991 o museu era parcialmente sustentado pelos concertos de um grupo de músicos.

Recordar é viver

Uma vinheta ilustrativa da pitoresca frieza a que recorrem os diplomatas profissionais:
No dia 21 de agosto de 1968 o embaixador brasileiro João Augusto de Araújo Castro estava na presidência do Conselho de Segurança da ONU e telefonou para seu colega soviético Yakov Malik, convocando-o para uma reunião extraordinária.

Qual é a agenda?, perguntou Malik. Na noite anterior as tropas soviéticas haviam invadido a Tchecoslováquia.

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