Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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O cofre do FNDE foi atacado em 2019

Jabuti em edital do fundo foi abatido por órgão de controle do governo Bolsonaro, mas responsáveis não foram identificados

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Bolsonaro estava a poucas semanas do primeiro aniversário do seu governo quando, em dezembro de 2019, o repórter Aguirre Talento revelou que a Controladoria-Geral da União havia capturado um jabuti numa licitação de R$ 3 bilhões (mais ou menos dez toneladas de ouro, na cotação de hoje).

O ervanário sairia do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, aquele onde até poucos meses agiam os pastores do ministro Milton Ribeiro. Destinava-se também à compra de equipamentos eletrônicos para a rede pública de ensino.

O leilão eletrônico foi anunciado em agosto e aconteceu em setembro. A CGU pegou o jabuti antes que se batesse o martelo do certame.

De pé, o presidente Jair Bolsonaro durante solenidade de valorização dos professores da educação básica no Palácio do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro durante solenidade de valorização dos professores da educação básica no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 4.fev.2022/Folhapress

Num memorável trabalho de 66 páginas, os analistas da CGU descobriram o seguinte: a escola municipal Laura de Queiroz, de Itabirito (MG), com 255 alunos receberia 30.030 laptops.

Seriam 117 laptops para cada estudante. Mais: 355 escolas receberiam um número de laptops superior ao de alunos.

O edital tinha também sinais de direcionamento. Um fornecedor apresentava-se em papel timbrado de outro, que também participava da licitação, usando o mesmo CNPJ.

Ambos cometeram o mesmo erro de português nas cartas de proposta: "Sem mais, para o momento, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessária."

O jabuti do edital do FNDE foi abatido por um organismo de controle do governo Bolsonaro.

Depois de ter sido suspenso, o edital foi cancelado e não se falou mais no assunto, até que apareceram os pastores que agenciam verbas do FNDE inclusive para compra de equipamentos eletrônicos.

A frase do presidente —"Estamos há três anos e três meses sem corrupção no governo federal"— ficaria redonda se os responsáveis pelo edital tivessem sido identificados, oferecendo explicações públicas para suas condutas.

Isso nunca aconteceu, apesar de terem sentado na cadeira dois ministros da Educação e três presidentes do Fundo. O atual chefiava o gabinete do senador Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro e um dos marqueses do centrão.

Em tempo: o FNDE tem um orçamento de R$ 55 bilhões.

Gênios militares

O comando do Exército tirou do ar o site Observatório de Doutrina do Exército, onde um çábio previu que as tropas russas tomariam Kiev num prazo de cinco a dez dias contados a partir do início da invasão.

O autor não deve ficar triste.

No final de 1941, uns seis meses depois da invasão da Rússia pelas tropas alemãs, os çábios do Estado-Maior do general Góes Monteiro, gênio militar do Estado Novo, previram que com a chegada da primavera, em abril de 1942, "as operações serão reabertas com o objetivo de pôr fora de causa a URSS no ano corrente, no mais curto prazo, como fator essencial para o desenvolvimento ulterior da guerra".

No final de 1941 havia começado a batalha de Moscou e a ofensiva alemã nessa frente foi paralisada. As tropas que seguiram para Stalingrado renderam-se no inverno seguinte.

Os Estados Unidos entraram na guerra e quem foi posta fora de causa foi a Alemanha.

Leia mais textos da coluna de Elio Gaspari deste domingo (27)

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