Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Lula com Bolsonaro na cena

Os dois dividirão o palco, e os presságios são ruins

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Confirmadas as expectativas, a partir desta quinta Jair Bolsonaro estará no Brasil, procurando espaço para fazer contraponto a Lula. Será uma situação inédita, com um ex-presidente, derrotado nas urnas por pequena margem (1,8% ponto percentual), opondo-se ao titular. Até agora, os ex-presidentes recolheram-se em elegante silêncio. Além disso, Bolsonaro e o Lula 3.0 têm a marca comum de uma agressividade tóxica para a paz política.

O ex-capitão mostrou-se um criador de casos em toda a sua carreira política. Nos quatro anos de governo, brigou com as vacinas, com a China e com as urnas eletrônicas, para citar apenas três exemplos. Já Lula, que se define como uma "metamorfose ambulante", fez sua campanha prometendo uma pacificação política e entrou no Planalto brigando com o presidente do Banco Central e vendo uma "armação" do senador Sergio Moro numa investigação da Polícia Federal.

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Lula e Bolsonaro em debate antes do segundo turno das eleições - Marlene Bergamo-16.out.22/Folhapress

Lula foi eleito por um arco de forças que defendiam a democracia. Quem acha que esse é um simples palavrório deve se lembrar da tarde de 8 de janeiro em Brasília. O arco democrático é algo diferente da frente de partidos que apoiou Lula. No primeiro estão pessoas como o ex-ministro Pedro Malan. No segundo está a força do Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro e os golpistas juntaram esses dois blocos, mas, desde que chegou ao governo, Lula pouco fez para manter o arco. Pelo andar da carruagem, pouco fará.

Bolsonaro foi alimentado pelo sentimento antipetista e foi batido pela sua agressividade irracional e errática. Regressando, ele quer liderar a direita que tirou do armário, mobilizou e acabou por avacalhar. Pode ser que ele sonhe ser um novo Carlos Lacerda, que o francês Charles De Gaulle chamou de "demolidor" de presidentes. Lacerda foi um grande governador da cidade do Rio de Janeiro. Falta ao ex-capitão um legado semelhante.

Bolsonaro volta menor, até porque o conservadorismo nacional já dispõe de dois quadros racionais: os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Minas Gerais, Romeu Zema. O ex-presidente, contudo, precisa voltar a se alimentar com o antipetismo. Já se abasteceu nele, com sucesso. Precisa da colaboração do PT, e daquilo que se supõe ser a esquerda, para voltar a crescer.

Num cenário no qual Lula 3.0 e Bolsonaro compartilhem a cena abundam os maus presságios. São trazidos pelas características de dois personagens atraídos pela onipotência. A do ex-capitão está no seu DNA. A de Lula é recente e, de certa forma, pontual. Por mais que se entendam as razões da malquerença de Lula por Sergio Moro, a sua elevação à categoria de ideia fixa é inútil e derrogatória para um presidente. As caneladas de Lula em Michel Temer mostram sua disposição de estreitar o arco de forças que se comprometeram com a democracia. O ex-presidente manteve-se neutro na disputa, defendendo seu governo, a democracia e a Constituição. Atacá-lo foi no mínimo uma inutilidade.

Os maus presságios cristalizam-se no risco de um debate de polarizações irracionais. O Brasil já foi governado por um presidente que hostilizava a vacinação durante uma epidemia. Depois da derrota, Bolsonaro disse que teria feito melhor se deixasse a Covid por conta do seu ministro da Saúde. Pedir desculpas a Luiz Henrique Mandetta e a Nelson Teich? Nem pensar.

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