Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

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Garra tem peso duas vezes maior do que talento para êxito, diz pesquisa

Estudos mostram que persistência explica superação de pessoas como Marielle e Hawking 

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O astrofísico Stephen Hawking e a vereadora  Marielle Franco (PSOL-RJ), que morreram na semana passada
O astrofísico Stephen Hawking e a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), que morreram na semana passada - Joel Ryan - 30.mar.15/Invision/Associated Press e Ellis Rua - 9.jan.18/Associated Press

“Favelada, para subir na vida, além de pegar o elevador, tem que se esforçar muito."

Em referência autobiográfica, Marielle Franco escreveu isso em sua dissertação de mestrado, segundo reportagem de Marco Aurélio Canônico.

Preta, favelada, mãe precoce. A história de Marielle é repleta de dados e fatos que costumam predizer a perpetuação da pobreza no Brasil, onde igualdade de oportunidades permanece um bem escasso.

Como deixou registrado em entrevistas e pronunciamentos, ela chegou a ser parte das estatísticas da adversidade de quem nasce e cresce em comunidades como o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

Começou a trabalhar aos 11 anos, engravidou aos 18, postergou os estudos.

Mas a persistência a levou a superar o que o destino parecia lhe reservar.

Já mãe de uma menina pequena, estudou ciências sociais numa boa faculdade privada com bolsa de estudos, enquanto se desdobrava em dois empregos; fez mestrado; entrou para a política, se tornou a quinta vereadora mais votada na eleição municipal de 2016 no Rio.

Assassinada brutalmente aos 38 anos na quarta-feira da semana passada, dividiu espaço nas notícias com um ícone mundial da persistência, o físico britânico Stephen Hawking, morto aos 76 anos no mesmo dia 14 de março.

Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença degenerativa grave, o cientista superou em 51 anos o prognóstico de tempo de vida que lhe foi dado pelos médicos no auge da sua juventude.

Hawking não desistiu do doutorado que fazia naquele momento nem de nada mais na vida. Perseverou a ponto de se tornar o físico mais respeitado de seu tempo. Isso não se deveu apenas à sua genialidade como cientista, mas foi também consequência de seu louvável esforço para comunicar suas ideias para o público leigo.

Mesmo com histórias de vida muito diferentes, é difícil não identificar em Marielle e Hawking o traço comum da persistência que, segundo a psicologia recente, é ingrediente fundamental das histórias de sucesso.

É isso o que mostram, por exemplo, os inúmeros estudos e experimentos da respeitada pesquisadora americana Angela Duckworth.

Em seu excelente livro “Garra, o Poder da Paixão e da Perseverança”, a psicóloga detalha as descobertas que ela e outros pesquisadores fizeram nas últimas décadas a respeito do tema.

Segundo Duckworth, a garra tem um peso duas vezes maior do que o talento para o êxito na vida.

Desenvolver esse traço de personalidade não é fácil, reconhece a pesquisadora. Além de eleger uma paixão, é preciso se dedicar a ela com unhas e dentes, como fizeram Hawking e Marielle.

Nas palavras de Duckworth: “O esforço que uma pessoa dotada de garra dedica em um dia é importante, mas ainda mais importante é ela acordar no outro dia, e no outro, disposta a subir naquela esteira e continuar a correr”.

Quedas acontecerão? Sem dúvida, afirma a pesquisadora. Mas quem tem garra se levanta e segue em frente.

Ao ler sobre Marielle e Hawking e olhar para meus filhos nos últimos dias, foi inevitável desejar que eles aprendam o valor de sonhar e trabalhar duro. Espero que, como mãe, consiga desempenhar meu papel de ajuda-los a não desistir jamais.

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