Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

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Descrição de chapéu enem

Que bom que os jovens prefiram o videogame à escola

Para ex-ministro português, adolescente cumpre seu papel ao ter interesses fora da sala de aula

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Estudante joga videogame em Belo Horizonte
Estudante joga videogame em Belo Horizonte - Pedro Silveira - 24.out.13/Folhapress

A provocação que inspirou o título aí de cima veio do matemático Nuno Crato, que conduziu Portugal a um salto educacional significativo na primeira metade desta década, a despeito da severa crise econômica que o país atravessava no período.

O ex-ministro da Educação esteve no Brasil na semana passada, a convite do Itaú BBA, para falar com representantes de governos estaduais que precisam transformar a reforma do ensino médio em realidade nos próximos anos.

Os relatos de Crato sobre a experiência de Portugal na educação —tema que, por aqui, virou uma espécie de monstro assustador— são capazes de gerar uma ponta de esperança até nos incrédulos.

Ele aponta soluções que soam factíveis e nada revolucionárias.

Na verdade, o que Portugal fez foi reforçar o que deveria ser o feijão com arroz educacional.

Os currículos (que seriam o equivalente à nossa recém-aprovada base nacional comum) já existiam no país europeu, mas foram detalhados, quase como planos de aula. Essa medida, diz Crato, reduz o impacto da eventual má-formação de professores sobre o ensino. Facilita a transmissão do conhecimento.

Em relação ao conhecimento em si, Portugal reduziu significativamente o número de disciplinas obrigatórias. O país também já oferecia algo que só chegará agora ao Brasil: a possibilidade de escolher rotas de formação (incluindo a profissionalizante) no ensino médio. Mas, ainda assim, o currículo de lá era abarrotado. Optou-se por simplificá-lo.

O número de avaliações ao longo do ensino básico aumentou de duas para quatro, e metas mais precisas foram estabelecidas.

As escolas ganharam flexibilidade para montar seus currículos, com autonomia para, por exemplo, dar mais ou menos tempo para um tópico específico.

“Se falamos o que as escolas precisam atingir e não damos alguma liberdade para que elas escolham seu caminho, é difícil esperar que se empenhem”, afirma Crato.

Outras questões que ganharam atenção foram o apoio a estudantes com maior dificuldade de aprendizagem e o combate rigoroso à evasão.

A taxa de abandono precoce da educação recuou de 23%, em 2011, para 12,6%, em 2017.

Ao ser questionado sobre a hipótese de o novo currículo português ter contemplado as chamadas competências do século 21 para aumentar a atratividade da escola para o jovem, Crato faz cara de cético.

Isso, para ele, não passa de modismo. As verdadeiras competências do século 21, diz, são português e matemática. Sem elas, prossegue o acadêmico, não há como aprender a pensar.

Insistimos na pergunta: mas não existe o diagnóstico de que o jovem acha a escola cada vez mais chata?

Aí, veio a provocação: “Se você oferecer ao jovem a escolha entre estudar matemática e jogar futebol ou videogame, ele ficará com a segunda opção. Seria preocupante se não fosse assim”, responde Crato.

Segundo ele, não se pode confundir o saudável papel contestador dos jovens com o fato de que eles não gostam da escola porque, muitas vezes, não entendem o que o professor tenta ensinar. Se conseguissem compreender os conteúdos, diz ele, seriam mais motivados.

O sucesso na educação, resume Crato, depende muito mais de fazer o básico bem-feito do que de buscar soluções mirabolantes e miraculosas.

“A educação é coisa simples, básica”, afirma o acadêmico.

Mesmo que não concordemos com tudo, acho que, para nós, vale muito a reflexão.

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