Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Érica Fraga

Caos provocado por paralisação aumentará desalento entre desempregados

Desesperança e informalidade têm sido os motores da queda da desocupação

Estação de metrô de SP lotada sob reflexo da paralisação dos caminhoneiros
Estação de metrô de SP lotada sob reflexo da paralisação dos caminhoneiros - Jardiel Carvalho/Folhapress

O Brasil se tornou o país de um único assunto: a paralisação dos caminhoneiros e seus efeitos desestabilizadores sobre o cotidiano de todos nós.

Quem tem renda e emprego enfrentou toda sorte de dificuldades, nos últimos dias, para se locomover até o trabalho: sem combustível, sem ônibus e com preços de serviços como táxis e Uber nas alturas.

As empresas buscaram se organizar com esquemas de trabalho remoto (o chamado home office), caronas, compartilhamento de carros autônomos etc.

Mas e os 13,4 milhões de desempregados brasileiros? Como eles e elas devem ter se virado e o que podem estar esperando do futuro?

Se havia lhes sobrado algo de dinheiro, ficou ainda mais difícil alcançar para comprar comida durante o período de paralisações, já que os preços de alimentos também subiram.

Nesse cenário de difícil subsistência agravado pelo caos, dificilmente restou dinheiro para “extras”, como buscar uma oportunidade de trabalho. Procurar emprego, afinal, custa dinheiro, seja para se locomover, seja para se comunicar com outras pessoas.

Ainda que, para alguns desempregados, a conta tenha fechado, resta a pergunta: até quando terão algo de ânimo?

As estatísticas mais recentes de mercado de trabalho, reforçadas pelos dados divulgados nesta terça-feira (29) pelo IBGE, indicam que, por trás de um conjunto de aspectos preocupantes, há um desalento crescente.

O vagaroso recuo da desocupação tem sido, em larga medida, explicado por uma combinação entre geração de vagas informais e desistência de muitos em buscar uma oportunidade.

A chamada taxa de participação —relação entre o número de pessoas ocupadas ou procurando emprego e o universo de quem tem idade para trabalhar— caiu em quase todas as faixas etárias no primeiro trimestre deste ano em relação ao fim de 2018.

Sozinho, esse resultado não seria necessariamente ruim. Parte dos trabalhadores poderia estar se retirando da força de trabalho porque a renda dos demais membros da família está aumentando e não por perda de esperança.

Ocorre, porém, que o salário real (descontada a inflação) também tem dado sinais de fraqueza. E a taxa de desalento —uma medida específica da desistência na busca por trabalho— bateu em 4,1% no primeiro trimestre deste ano, maior nível da série histórica iniciada em 2012.

Quanto mais tempo os desempregados permanecem afastados do mundo do emprego, mais seu capital humano —que inclui habilidades adquiridas na prática do trabalho— se deteriora, piorando suas perspectivas de recolocação.

E a paralisação dos caminhoneiros terminou de escancarar nossa realidade de colapso econômico, político e institucional. Difícil imaginar que, em meio a tudo isso, a desesperança entre os que já eram mais fortemente atingidos pela crise não continuará aumentando.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.