Duas das principais instituições privadas de ensino superior do país, o Insper e o hospital Albert Einstein, acabam de testar um projeto em resposta à demanda crescente do mercado por profissionais que sejam capazes de realizar bons diagnósticos para problemas complexos, trabalhando em equipe.
Com apoio financeiro do MIT (Massachusetts Institute of Technology), reputada instituição norte-americana, as duas faculdades ofereceram em parceria, neste primeiro semestre, a disciplina Engenharia da Transformação.
Apesar do nome, a eletiva esteve disponível para alunos de primeiro e segundo períodos de todos os cursos de graduação das instituições, que, no Insper, além da própria engenharia, inclui economia e administração e, no Einstein, medicina e enfermagem.
Os 18 alunos que participaram do projeto conviveram por algumas semanas com famílias da Vila Nova Esperança, comunidade carente na zona Oeste de São Paulo.
A proposta do curso não era que saíssem de lá com soluções, mas diagnósticos bem feitos sobre os desafios cotidianos dos moradores.
“Aprendemos a ver e a entender as pessoas de fato e não enxergá-las apenas como um problema”, diz Rebeca Veneziani de Souza Santos, 20, aluna do primeiro ano de Medicina do Einstein.
De acordo com a estudante, trabalhar em grupos multidisciplinares contribuiu para que ela e os colegas observassem as situações sob pontos de vista distintos:
“Eu aprendi a pensar mais em processos e acho que também contribuí com uma visão que outros não tinham. Ao acompanhar o trabalho dos meus colegas que focaram em reciclagem notei, por exemplo, que as pessoas da comunidade trabalhavam sem luva”.
Segundo Paulina Achurra, professora de engenharia do Insper, a parceria no projeto de imersão social faz parte de um esforço para oferecer uma formação mais abrangente:
“Muitos brasileiros vivem dentro de uma bolhinha, sem contato fora do seu círculo”, afirma.
“A formação técnica é um componente importante, mas a capacidade de interação social e de compreensão dos problemas ambientais também são”.
Essa visão mais ampla, ressalta a docente, é fundamental para que os alunos se tornem, no futuro, profissionais capazes de propor soluções partindo de bons diagnósticos.
“Sem entender o contexto da vida das pessoas, suas dores e dilemas, fica muito difícil encontrar alternativas para melhorá-la de fato”, afirma Achurra.
Experiências de soluções aparentemente sofisticadas do passado que falharam por não partir de bons diagnósticos ajudam, segundo ela, a iluminar o caminho das instituições de ensino e pesquisa na busca por aprimorar a formação que oferecem.
Achurra cita como exemplo o programa “one laptop per child” (um laptop por criança) nascido no próprio MIT em meados da década passada com o objetivo de melhorar a aprendizagem de alunos carentes.
“Quando os laptops foram entregues, passaram a ser usados como luminárias porque as crianças não tinham luz elétrica em casa. Ou seja, naquele contexto, não foi uma boa solução para um problema educacional”, diz.
A capacidade de analisar e resolver problemas de forma rápida e efetiva é cada vez mais demandada pelas empresas que enfrentam a exigência também crescente de consumidores que comparam e trocam informações sobre a qualidade de produtos e serviços instantaneamente. Em resposta a essas tendências, as instituições de ensino buscam reformular currículos.
Seu desafio será contemplar as experiências que poderão ajudar os alunos a se tornarem profissionais mais ágeis, atentos, sensíveis e comunicativos sem deixar a transmissão de conteúdo de lado.
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