Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

Os objetivos das vacinas para Covid-19

O que se procura avaliar nos diferentes estudos de imunizações candidatas

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É sem precedentes o esforço para conseguir uma vacina contra a Covid-19. Hoje há aproximadamente 200 produtos em desenvolvimento, dez dos quais já chegaram à última etapa de testes em humanos, a fase 3. Mas como serão analisados os resultados?

Uma vacina candidata pode atingir três objetivos para considerada de sucesso. O primeiro, e mais desejável, é bloquear o novo coronavírus imediatamente, no momento em que entra no corpo, nem sequer permitindo que se multiplique. Essa proteção, chamada de esterilizante, seria capaz de impedir completamente a instalação da infecção.

O segundo é impedir o aparecimento de qualquer doença. Isto é, o novo coronavírus conseguiria adentrar pela via respiratória, se multiplicar, mas seria incapaz de causar sintomas. É importante notar que, ao permitir que o vírus se multiplique, teoricamente é possível que essa pessoa ainda seja transmissora —talvez, de maneira menos eficiente que uma pessoa não vacinada.

Um último objetivo, não tão ideal quanto os anteriores, mas ainda muito útil, é que a vacina candidata proteja uma pessoa acometida pela Covid-19 de desenvolver a forma mais agressiva da doença. Nesse caso, o vírus entraria no corpo, causaria sintomas, mas não doença grave, que necessitasse tratamento intensivo ou pudesse levar à morte.

Os estudos planejados até agora buscam provar que a vacina candidata consegue atingir o segundo objetivo, isto é, o de prevenir o desenvolvimento de Covid-19. E quanto aos outros dois objetivos?

O primeiro deles tem problemas inerentes de avaliação: seriam necessárias muitas coletas de material para detectar o vírus. Além disso, não é simples interpretar se a presença do vírus necessariamente resultaria em doença. Afinal, sabe-se que a maioria das pessoas acometidas pelo novo coronavírus não desenvolve sintomas, embora a proporção exata de assintomáticos entre os infectados ainda seja incerta.

Para atingir o terceiro objetivo, a dificuldade está no estudo clínico necessário para mostrar que a vacina candidata evita apenas a forma grave da doença. Seria preciso um número muito grande de voluntários para chegarmos a uma conclusão, talvez muito maior do que as dezenas de milhares que já estão sendo convidadas a participar dos atuais estudos fase 3. Afinal, a proporção de pessoas que desenvolve doença grave é pequena.

No fim das contas, embora tenham sido planejados para atender ao segundo objetivo, todos os estudos em andamento acabarão por avaliar os outros dois objetivos aqui descritos, com a ressalva que serão análises secundárias e com menor poder para chegar a uma conclusão.

A eficácia de uma vacina candidata na prevenção da Covid-19 indicará o que será feito com ela. Em outras palavras, sua forma de utilização poderá variar de acordo com o seu desempenho, desde que superior a 50% para que a OMS indique seu uso. Evidentemente, quanto mais eficaz, melhor —e mais fácil de adotá-la em saúde pública.

Resta, agora, continuar o empenho na busca de uma vacina contra a Covid-19 e aguardar os tão esperados resultados dos estudos que já estão em fase 3. Em seguida, saberemos seu lugar no combate à pandemia.

*

Cometi um erro na análise publicada na última sexta-feira. A CoronaVac conseguiu induzir boa resposta imune em pessoas com idade superior a 60 anos, mostrando a detecção de anticorpos em mais de 90% dos vacinados, como ocorre com os mais jovens. Entretanto, ainda é preciso demonstrar se isso se traduzirá em proteção contra a Covid-19, o que também está sendo avaliado no estudo fase 3 em curso, coordenado pelo Instituto Butantan.

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