Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás
Descrição de chapéu Coronavírus

O tratamento de Trump

A corrida dos anticorpos monoclonais para tratar Covid-19 chegou à Casa Branca

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Da mesma forma que ocorreu com as vacinas, há uma corrida em direção ao desenvolvimento de anticorpos monoclonais para o tratamento da Covid-19.

Uma das peças-chave do sistema de defesa, os anticorpos podem ser descobertos e fabricados artificialmente, usando fermentadores que os produzem em grande quantidade para uso como medicamento. Cada um desses anticorpos produzidos artificialmente, chamados monoclonais, recebe uma denominação, uma sigla, atribuída pelo grupo descobridor que registra a patente. Mais tarde receberão um nome.

O uso de anticorpos já é rotina no tratamento de várias formas de câncer e doenças do sistema imune. Eles vêm revolucionando a abordagem de muitas dessas doenças, controlando-as ou até levando a alternativas de cura —como é o caso do melanoma, um agressivo tumor de pele.

A corrida para achar anticorpos que neutralizam o novo coronavírus começou logo após a descoberta do vírus. Os primeiros trabalhos foram publicados já em março de 2020 e desde então vêm se acumulando, oriundos de diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo.

Com tantos estudos em andamento, novidades eram esperadas. Mesmo assim, foi recebida com grande surpresa a notícia de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve acesso a anticorpos monoclonais logo após seu diagnóstico de Covid-19.

Um coquetel desenvolvido pela empresa Regeneron, com dois anticorpos, foi o escolhido. Não sabemos se a rápida recuperação de Trump deveu-se a este tratamento experimental. Aliás, pouco se pode concluir de um tratamento isolado. É inegável, contudo, que a notícia trouxe enorme atenção para essa nova tecnologia.

Mais de 150 anticorpos monoclonais contra o novo coronavírus já foram descobertos. Treze empresas já estão em fase de testes clínicos: juntas, financiam 19 projetos de pesquisa em andamento, alguns deles ocorrendo no Brasil, inclusive no Hospital das Clínicas da USP.

Esses testes verificam se o tratamento com anticorpos monoclonais funciona contra formas graves e leves de Covid-19. Também investigam se são capazes de prevenir a infecção pelo novo coronavírus e o desenvolvimento da doença.

Informações iniciais sugerem que esses anticorpos podem ser úteis para inibir e neutralizar o vírus, algo importante no momento inicial da doença. Após essa fase precoce de sintomas, o efeito benéfico é menos esperado, pois o principal problema passa a ser o processo inflamatório e o aumento da coagulação, desencadeados pelo vírus.

Embora muito promissora, a estratégia teve sua primeira baixa. Nesta terça (27), um estudo com o coquetel de dois anticorpos monoclonais desenvolvido pela empresa Eli Lilly foi encerrado, por não ter demonstrado qualquer efeito contra as formas mais graves de Covid-19. Talvez não tenha sido usado, como sugerido, logo após o início dos sintomas.

Resultados de outros estudos são esperados para breve e trazem a promessa de ocupar o lugar do tratamento antiviral precoce, para o qual ainda não temos opções eficazes demonstradas.

Embora tenha sido uma das estratégias estudadas para o enfrentamento da pandemia, ainda são necessários meses até que surjam os primeiros anticorpos monoclonais —daí a iniciativa em tratar Trump tão cedo. A produção de anticorpos monoclonais ainda é trabalhosa e cara. Para que sejam largamente acessíveis, seu custo de produção precisa ter redução expressiva.

Anticorpos monoclonais são uma aposta muito promissora e sua tecnologia vem sendo rapidamente aprimorada. Seu lugar no futuro da medicina é certo e a pandemia de Covid-19 parece estar confirmando esta premissa.

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