Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

Os supertransmissores

Como um teste de detecção de antígenos poderia ajudar a encontrá-los

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Algumas das pessoas infectadas pelo coronavírus apresentam papel impressionante na cadeia de transmissão da doença. Os chamados supertransmissores são capazes de eliminar uma enorme quantidade de vírus no ar.

Embora a existência de supertransmissores de vírus já fosse uma hipótese no início da pandemia, alguns trabalhos recentes acabaram de confirmá-la. Um estudo publicado há duas semanas por pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA), avaliou amostras de saliva de 72,5 mil pessoas sem sintomas de Covid-19. O material genético do vírus foi identificado em 1.405 delas. Deve-se considerar que o estudo foi efetuado durante um momento crítico da pandemia nos EUA, quando havia intensa transmissão comunitária da doença.

O resultado surpreendente obtido nessa amostra mostrou que 2% das pessoas com teste positivo para Covid-19 apresentavam uma quantidade de vírus astronômica, representando 90% da quantidade de vírus circulante na comunidade de pessoas sem sintomas.

Enfermeiro mostra teste rápido de detecção de antígenos do coronavírus, em Berlim, na Alemanha - Hannibal Hanschke - 6.abr./Reuters

E por quanto tempo um supertransmissor pode espalhar o vírus? Esta resposta ainda não está totalmente clara, mas alguns estudos sugerem que esse período seria curto: desde um ou dois dias antes até os primeiros dias após iniciados os sintomas da doença.

Se houvesse um método preciso para descobrir e isolar essas pessoas, conseguiríamos controlar melhor a pandemia? Ainda não temos uma ferramenta específica para tal. Entretanto, há um meio que nos permite identificar as pessoas que estão eliminando vírus, independentemente da quantidade eliminada.

Vários testes atualmente disponíveis detectam antígenos do vírus na secreção respiratória. Muito mais práticos, têm sido reconhecidos como a melhor maneira de fazer essa identificação. Mais baratos e mais fáceis de aplicar, não requerem laboratório especializado para sua realização. Com instruções simples, podem ser feitos em casa, com resultado pronto em poucos minutos. Além disso, expressam melhor a presença de vírus viáveis na secreção respiratória, capazes de se multiplicar.

Por todas estas razões, algumas iniciativas têm promovido seu uso em grandes populações. O mesmo deveria ser feito aqui.

Os primeiros trabalhos já estão mostrando o impacto da adoção desses testes rápidos no decréscimo de casos e mitigação da pandemia, quando considerada a sua importância no isolamento e quarentena de doentes e seus contatos. Um estudo conduzido na Eslováquia (publicado em 7 de maio de 2021, na revista Science) adotou o uso em grande escala e mostrou que houve redução de 58% da transmissão do vírus em uma semana, associado à adoção de outras medidas de combate à pandemia.

Saber, rapidamente, se alguém está eliminando vírus viáveis é um ponto essencial. Permitiria a pronta adoção de isolamento bem como melhor controle de contatos, protegendo especialmente pessoas mais vulneráveis do desenvolvimento de doença grave. Não conseguiremos algo parecido com o uso do teste tradicional de PCR.

Os testes rápidos para detectar de antígenos do novo coronavírus conseguiriam identificar quais seriam, exatamente, os supertransmissores? Precisamente? Não. Entretanto, identificariam segura e rapidamente pessoas que têm testes positivos, dentre as quais se inserem os supertransmissores.

Há razões suficientes para implementar o uso de testes rápidos como uma das bases das ações dos agentes públicos no combate à pandemia. Torná-los facilmente acessíveis para todos é medida a ser adotada o mais brevemente o possível.

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