O pesquisador brasileiro é criativo. Há muitas ideias para incrementar o desenvolvimento de novos produtos, com grande potencial para melhorar a saúde humana. Medicamentos, vacinas, métodos diagnósticos são exemplos principais.
Infelizmente, o número de produtos que trilham a rota de inovação no Brasil, candidatos a ocuparem lugar na prateleira de produtos para uso em saúde, é muito pequeno quando comparado a países com tradição em inovação tecnológica.
Por quê? Há muitas razões que merecem urgente reflexão.
A pandemia de Covid-19 gerou uma crise internacional. O mundo se viu desesperado à procura de soluções tecnológicas. Testemunhou-se uma premência no desenvolvimento de testes para diagnósticos que, felizmente, hoje estão popularizados. Os tratamentos antivirais começaram a ser testados no começo da pandemia, tanto com o reposicionamento de medicamentos usados para outras doenças como com novos remédios, desenvolvidos para enfrentar o novo coronavírus. Todos acompanhamos a polêmica de muitas medicações que ficaram pelo caminho, por não terem sua eficácia confirmada em estudos rigorosos. O desenvolvimento de vacinas bateu todos os recordes, possibilitando o seu uso cerca de 11 meses após a identificação do Sars-CoV-2 como o agente causal da doença.
O Brasil contribuiu com várias pesquisas, quer sejam as realizadas exclusivamente aqui ou participando em projetos internacionais. Entretanto, a descoberta de novos produtos para enfrentamento da Covid-19 foi concebida em outros países e trilhou os caminhos de desenvolvimento até o final. Como resultado, foi preciso importar a esmagadora maioria dos testes diagnósticos, de novas opções de antivirais e de vacinas.
O grande problema que temos é a ligação entre o conceito e o desenvolvimento, das primeiras etapas da descoberta em laboratório até a fase clínica de testes. É o que se denomina de "vale da morte".
Nesta fase, é preciso um somatório de ocorrências. A invenção precisa passar por etapas de validação, com manufatura de lotes piloto sob condições rigorosas de produção. Depois, para tratamentos e vacinas, é preciso ter estudos de segurança em modelos, tanto em laboratório, com células que simulam organismos complexos, como em animais experimentais. Tais etapas são críticas para garantir a segurança do produto.
O parque de universidades, institutos de pesquisa e empresas brasileiras capazes de preencher estes requisitos é bastante limitado.
Soma-se, a tudo isso, o alto custo envolvido para alavancar produtos inovadores. Por exemplo, a produção de um lote piloto de anticorpo monoclonal para uso como antiviral, seguindo as etapas de validação, chega a custar US$ 6 milhões. Além da escassez de recursos financeiros no Brasil, por cortes frequentes de verbas destinadas ao desenvolvimento científico, a burocracia para uso de recursos públicos é complexa e morosa.
Sem capacidade local, fica a reboque do mercado internacional, sujeito à disponibilidade e competindo com países desenvolvidos.
Cabe discutir uma política de incentivo nacional, se quisermos que as descobertas brasileiras cheguem mais rápido: aumentar o investimento na ciência em universidades e institutos de pesquisa, desonerar a linha produtiva de inovação biotecnológica, facilitar importação de insumos não disponíveis aqui e estimular investimento de empresas brasileiras.
Só assim poderemos criar as pontes para transpor o "vale da morte'' e fazer do Brasil um celeiro de novas descobertas.
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