Vários dos conceitos que vinham se consolidando para o Sars-CoV-2 foram desafiados com a chegada da nova variante.
Com agressividade menor, porém ainda capaz de causar doença grave, especialmente em não vacinados, a ômicron surpreendeu pela sua transmissibilidade. Os números colocam-no como candidato a um dos agentes infecciosos mais transmissíveis que temos notícia.
Entre várias preocupações, muitos foram confrontados com a dúvida de qual o período de isolamento necessário. Ou mesmo se o isolamento tem cabimento, para agente que se propaga tão facilmente.
Embora saibamos que a maioria da população será infectada, é sempre prudente adotar medidas para reduzir a transmissão. Os esforços são, no mínimo, para reduzir a velocidade de disseminação e, principalmente, proteger os mais vulneráveis.
Há como estabelecer um tempo de isolamento que sirva para todos, ou seja, 100% capaz de impedir transmissão? Como todo fenômeno biológico, a resposta é não.
Os exemplos extremos subvertem regras gerais. Teremos alguns indivíduos que, mesmo infectados, podem não transmitir. Também há outros que, com o sistema de defesa muito enfraquecido, podem eliminar vírus por semanas ou meses.
Qualquer período adotado terá falhas em ambas as direções, quer seja permitindo que alguém transmita a infecção após o tempo preconizado, quer seja impondo tempo de isolamento além do necessário para alguns.
A transmissão em massa da ômicron forçou uma revisão destes prazos. Com número estrondoso de pessoas infectadas em período muito curto, houve perda impactante na força de trabalho, especialmente em funções essenciais. Sob a pena de serviços entrarem em colapso, foi proposta maior flexibilidade de isolamento.
Um dos parâmetros que pesaram nessa avaliação foi observar por quanto tempo, após o início dos sintomas, havia vírus na secreção respiratória com capacidade de se multiplicar em laboratório. Já há dados, com a variante ômicron, em experimentos feitos com algumas dezenas de pessoas infectadas no Japão. Os resultados mostraram cenário muito parecido com o de outras variantes. Dez dias foi o período em que o vírus permaneceu viável na secreção respiratória, norteando as recomendações da OMS e, até recentemente, do Ministério da Saúde.
Outra referência veio pela observação dos clusters de transmissão, isto é, casos secundários que ocorrem a partir de um caso confirmado. O período de maior transmissão ocorreu nos cinco dias após o início de sintomas. Esta análise serviu como base para a revisão de isolamento proposta nos Estados Unidos.
Num meio termo, Inglaterra e França adotaram agora o isolamento de sete dias após o início dos sintomas, com uso do teste para detecção de antígenos com resultado negativo como uma salvaguarda adicional.
O Brasil segue este caminho intermediário, reduzindo o isolamento para sete dias se os sintomas desaparecerem nesse período. Testes para confirmar? A escassez de acesso no Brasil não permite, infelizmente, sua adoção na prática da política pública. Autoteste? Talvez chegue tarde demais para ajudar na onda ômicron.
Reforçando o já visto, todas estas medidas têm imperfeições e precisam ser consideradas de acordo com os vários contextos. Vale ser mais flexível para reintegrar profissionais em posições críticas, como os da saúde e segurança? Vale isolamento mais longo para quem convive com pessoas muito vulneráveis a desenvolver doença grave? Certamente.
Aplicar tal juízo é difícil, mas necessário na tomada de decisões.
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