Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Varíola de macacos e a ameaça de nova pandemia

O que já sabemos sobre o vírus e a doença

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Aconteceu com um brasileiro de 26 anos, que chegou à Bavária, na Alemanha, depois de passar por Portugal e Espanha. A presença de vesículas na pele levantou a suspeita de ser um caso da varíola do macaco. Autoridades alemãs confirmaram se tratar do primeiro caso da doença naquele país. Com este, já são 15 os países que registram ao menos um caso, até a conclusão deste texto.

Ainda vivendo os rescaldos da pandemia de Covid-19, surge uma nova ameaça de doença transmissível, que vem chamando a atenção da mídia internacional. Em inglês: "monkeypox".

Embora tenha recebido o nome quando foi identificado em macacos importados da África para a Dinamarca, em 1958, o vírus causador da doença vive comumente em roedores silvestres e é, ocasionalmente, transmitido para macacos e humanos, por contato direto da pele com as bolhas ou crostas. A transmissão pode também ocorrer pelo sistema respiratório ou contato direto.

Paciente com a varíola de macacos, com lesões no tórax e nos braços
Paciente com a varíola de macacos, com lesões no tórax e nos braços - CDC/Brian W.J. Mahy/Handout via Reuters

A doença assusta pela apresentação. Lesões de pele, com vesículas purulentas espalhadas pelo corpo, que podem durar semanas e deixar cicatrizes. Inflamação de nódulos linfáticos, dores de cabeça e nos músculos, febre e calafrios podem fazer parte do quadro. Alguns podem ter comprometimento de órgãos e a morte, felizmente incomum, pode ocorrer, principalmente se acometidas crianças abaixo de 5 anos, grávidas e pessoas com defeitos no sistema de defesa.

Só é possível confirmar que uma pessoa tem o vírus com testes que detectam seu material genético, particularmente nas vesículas que surgem na pele. Há testes de sangue, mas são, por enquanto, imprecisos.

Ao menos para a varíola do macaco, não se parte de uma situação absolutamente inesperada, como foi com a Covid-19. O vírus já é conhecido há décadas, pois o primeiro caso humano foi reconhecido em 1970. Já se sabe que a vacina para varíola, que deixou de ser usada no fim dos anos 70 com a erradicação, confere boa proteção, de aproximadamente 85%, além de tornar mais branda a doença, caso ocorra em vacinados.

Também há remédios que combatem o vírus. Dois antivirais —cidofovir e tecovirimat— já possuem aprovação para uso, embora seu acesso seja bastante limitado. Outra vez, será preciso cooperação internacional para tornar as medicações disponíveis para as áreas onde estão ocorrendo os casos.

Esta é apenas mais uma no rol das denominadas "doenças negligenciadas". Há mais de mil casos relatados todos os anos, concentrados em países do Centro-Leste Africano, onde é considerada endêmica. Poucos deram importância a ela, pois é restrita a locais muito pobres, longe dos grandes centros econômicos e turísticos.

Foi só após a ocorrência de cem casos confirmados, além de cem outros suspeitos, na Europa e Estados Unidos, que a doença despertou preocupação mundial. Entretanto, esta é uma doença com potencial pandêmico conhecido há muito tempo.

Ressurge a questão: o Brasil está preparado para enfrentar o que pode se tornar uma nova pandemia?

Embora a varíola de macacos possa estar limitada a surtos isolados, a mobilização rápida e o fortalecimento perene da estrutura de atendimento, especialmente do SUS, precisa ser aprimorada.

A Covid-19, além do sofrimento, trouxe muitas lições. O que se viveu no Brasil deve servir de base para construir respostas sólidas às novas ameaças que estão vindo e virão.

Nenhum país está blindado ou ilhado do restante do mundo. Mais uma vez, uma doença infecciosa alerta que enquanto todos não estejam protegidos, a sociedade ainda estará vulnerável.

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