Sim, é possível controlar a pandemia de HIV/Aids.
Das diferentes formas de transmissão do HIV, a sexual é a mais comum, além do compartilhamento de material contaminado, como seringas e agulhas. Entretanto, a transmissão do vírus da mãe para o filho, geralmente na hora do parto ou durante a amamentação, constitui um expressivo problema de saúde pública mundial. Esta última é chamada de transmissão vertical.
Antes do advento dos remédios antirretrovirais usados no chamado coquetel de tratamento, que bloqueiam a multiplicação viral, ao redor de uma em cada três crianças que nasciam de mães que viviam com o HIV eram infectadas.
Um sofrimento sem tamanho para todos os envolvidos. A descoberta de tal diagnóstico trazia impactos para todo o sistema de saúde, para a família e, principalmente, para a criança que ficava suscetível a problemas de saúde graves, podendo morrer de doenças oportunistas em grande porcentagem dos casos.
Logo que surgiu, o AZT passou a ser empregado na tentativa de impedir a transmissão materna para as crianças, com resultados significativos. Entretanto, os estudos foram mostrando que era fundamental que a mãe conseguisse controlar a multiplicação do vírus com o coquetel de tratamento, principalmente no momento do parto.
A transmissão vertical foi caindo com o tempo. Estavam disponíveis as armas para a prevenção de novos casos em crianças. A tarefa, contudo, não parecia tão fácil.
Como saber onde estão as mulheres grávidas que vivem com o HIV? Como fazer chegar o tratamento a todas? Como fazer com que o tratamento resulte em controle do vírus? E os recém-nascidos, como fazer com que todos nascidos de mães que vivem com HIV tomem o remédio profilático durante o primeiro mês de vida?
Os resultados positivos só seriam possíveis com ações bem coordenadas: vigilância em saúde, disponibilidade de testes para diagnóstico, acesso a serviços de saúde (já que a grande maioria das famílias brasileiras depende exclusivamente do SUS) e seguimento de longo prazo.
Foi isso que o Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo conseguiu.
A primeira metrópole da América Latina a conseguir a certificação da eliminação da transmissão vertical do HIV, em 2019, São Paulo manteve o feito de seu programa de prevenção, atendendo em 2021 a uma série de critérios estabelecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esta é uma conquista extraordinária, diante das dificuldades dos programas de saúde pública durante a pandemia de Covid-19, que dificultou o acesso de gestantes à assistência médica.
Somados a outros, esses resultados nos levam a crer que a eliminação da transmissão do HIV é possível, incluindo a transmissão por via sexual. As ferramentas estão postas: identificação das pessoas que vivem com HIV, uso de meios de prevenção de barreira ou com medicamentos e, principalmente, tratamento adequado para todos aqueles que vivem com o vírus.
Desta forma, quebra-se a cadeia de transmissão e a pandemia tende a regredir. É o que já se percebe no estado de São Paulo, com queda no número de novos casos todos os anos.
O controle da pandemia de HIV/Aids passou a ser predominantemente uma questão político-administrativa. Embora todos esperem por novas contribuições da ciência, como medicamentos ainda melhores, vacinas e mesmo a cura, os recursos que temos, aliados à eficiência administrativa, indicam que se pode chegar lá. O município de São Paulo nos provou que sim.
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