Fernanda Mena

Jornalista, foi editora da Ilustrada. É mestre em sociologia e direitos humanos pela London School of Economics e doutora em Relações Internacionais.

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Fernanda Mena
Descrição de chapéu Eleições 2018

Lula e a geringonça brasileira

Petista talvez fosse capaz de unir a esquerda, mas parece preocupado demais com a própria biografia

 
 

A distribuição político-ideológica dos candidatos à Presidência tem ares de déjà-vu para a esquerda paulistana. 

No último pleito, Fernando Haddad (PT), Luiza Erundina (PSOL) e Ricardo Young (Rede) —e, vá lá, Marta Suplicy, ex-PT e então candidata do MDB— dividiram este eleitorado. 

E assistiram à vitória do discurso antipolítico de João Doria (PSDB) já no primeiro turno.

Ainda que a somatória de seus votos não fizesse sombra aos 53,3% que elegeram o neotucano, será que uma aliança não teria melhores chances?

Foi isso o que, segundo o sociólogo Boaventura Sousa Santos, levou a esquerda de volta ao poder em Portugal, num contexto europeu em que conciliações costumam ocorrer entre centro e direita.

“As esquerdas estavam divididas, mas decidiram se juntar a partir de convergências mínimas para não serem governadas pela direita novamente. Essa coisa extraordinária foi apelidada pejorativamente de ‘geringonça’, nomenclatura que passamos a adotar com orgulho”, disse o português à Folha.

Em 2018, quando de novo o campo da esquerda se divide, a geringonça portuguesa sugere estratégia oposta à de pulverizar votos entre Lula (PT), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL).

O ex-presidente lidera pesquisas mesmo preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, com 30% das intenções de voto —mais que a soma dos eleitores de Marina, Ciro, Manuela e Boulos. Em segundo lugar, vem crescendo Jair Bolsonaro (PSL), com 19%. 

 
A participação de Lula no pleito é, no entanto, improvável, ainda que sua condenação seja apontada como rápida e severa demais diante de outros políticos investigados.

Carismático e personalista, Lula talvez fosse capaz de compor a geringonça brasileira, mas parece preocupado demais com a própria biografia para articular um movimento do qual pode não ser protagonista ou para apontar um sucessor com tempo de se fazer conhecer pelos lulistas.

 
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