Fernanda Mena

Jornalista, foi editora da Ilustrada. É mestre em sociologia e direitos humanos pela London School of Economics e doutora em Relações Internacionais.

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Quando 1 brasileiro vale 5 franceses

Parâmetro de poluição para ativar protocolo emergencial no país supera em mais de 5 vezes o da França

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A capital paulista vista a partir de Santana, na zona norte, no dia 17 deste mês

A capital paulista vista a partir de Santana, na zona norte, no dia 17 deste mês Bruno Santos/Folhapress

A pauta eleitoral costuma passar longe de um tema que olhos, garganta e pulmões não conseguem ignorar: a poluição do ar.

No período de maio a setembro, a estiagem e a falta de ventos prejudicam a dispersão de poluentes, agravada pela preferência nacional pelo transporte individual, pela lenta ampliação de metrôs e BRTs, e pela falta de ciclofaixas e ônibus “limpos”.

O resultado é uma névoa cinzenta que torna o pôr do sol um espetáculo laranja tão intenso quanto a sinfonia de tosses que o acompanham.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica está associada a 25% das mortes por câncer de pulmão, 16% dos casos de infarto e 17% dos óbitos por infecções respiratórias agudas, que castigam especialmente crianças e idosos. No Brasil, ela mata 50 mil pessoas por ano, de acordo com a OMS.

Na semana passada, das 50 estações de monitoramento do ar no estado de São Paulo com dados validados pela Cetesb, 68% registraram quantidades de partículas inaláveis (chamadas MP10) acima do limite máximo apontado pela OMS.

Quase 1/5 delas atingiu índices que, na França, gerariam medidas emergenciais para evitar danos à saúde, como restrição da circulação de caminhões e de 50% dos carros, velocidades baixas e metrô grátis.
Por que será que, em São Paulo, não aconteceu nada disso?

A resposta está nos parâmetros de poluição considerados altos o suficiente para ativarem protocolos de emergência. Na França, a sirene é ligada quando marcadores ultrapassam 80 microgramas de MP10/m³. No Brasil, isso só ocorre na casa dos 420.

Estabelecido em 1990, nosso parâmetro é mais de cinco vezes aquele adotado na França. É tão alto que raramente foi atingido no mundo.

Considerado leniente, com ele, o Brasil nunca está em alerta e, portanto, não se preocupa com efeitos da poluição na saúde da população.

O que ninguém explicou até hoje é por que os brasileiros podem ser considerados cinco vezes mais resistentes à poluição do que os franceses.

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