Fernanda Mena

Jornalista, foi editora da Ilustrada. É mestre em sociologia e direitos humanos pela London School of Economics e doutora em Relações Internacionais.

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Fernanda Mena

Vivas ou mortas

Falta de debate leva quem diz defender a vida a ameaçar a vida de alguém

No Chile, uma passeata pró-aborto que reuniu dezenas de milhares de pessoas na quarta-feira (25) terminou com três mulheres esfaqueadas por homens encapuzados.

No Brasil, a professora Débora Diniz, da UnB (Universidade de Brasília), ingressou no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo federal após sofrer ameaças de ativistas antiaborto. A dimensão do caso a levou a abandonar a capital federal enquanto aguarda o resultado das investigações.

Diniz já esteve envolvida em outros debates sensíveis, como o uso de células-tronco e o aborto de fetos anencéfalos. Hoje, integra o front da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 442) que pede a descriminalização do aborto voluntário até a 12ª semana de gestação e terá audiências públicas no STF na semana que vem.

O debate vai opor quem vê a interrupção da gravidez recém-descoberta como direito e quem acredita que a mulher que aborta deve estar sujeita a pena de 1 a 3 anos de prisão.

Sabe-se que a América Latina é a região do mundo onde mais ocorrem abortos. São 44 procedimentos a cada mil latino-americanas. Na América do Norte, o índice é 17.

Sabe-se também que cerca de 10% das mortes maternas se devem a abortos ilegais e inseguros, a que recorrem mulheres mais pobres.

E, até hoje, não se sabe ao certo quando começa a vida — alvo de embates científico-religiosos.

No último ano, o debate sobre o aborto ser ou não crime voltou com força na região. O Congresso chileno aprovou lei que permite aborto em caso de estupro e risco de vida, e deputados argentinos descriminalizaram a prática. A votação no Senado ocorre no próximo dia 8. No Brasil, atual consulta pública no site do Senado divide opiniões: 339 mil votos a favor da legalização e 342 mil contra. 

Os recentes ataques contra mulheres no Brasil e no Chile ilustram, no entanto, que paixão no lugar do debate de ideias é capaz de levar alguém que diz defender a vida a ameaçar tirar a vida de alguém.

 
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