Fernanda Mena

Jornalista, foi editora da Ilustrada. É mestre em sociologia e direitos humanos pela London School of Economics e doutora em Relações Internacionais.

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Bala perdida e frango rastreável

Controle de munições no Brasil tem se mostrado falho

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Toda vez que abre uma garrafa de vinho, assa um frango “bio” ou morde um tomate orgânico, você pode rastrear seu local de produção, a empresa responsável e a safra ou o lote ao qual pertence.

Já se você levar um tiro, será bem mais complicado obter informações que relacionem a cápsula da munição disparada ao trajeto que a conduziu até aquele que apertou o gatilho.

Isso porque o sistema de controle e rastreamento de munições no Brasil, sob responsabilidade do Exército, tem se mostrado falho, como se fosse algo menos importante.

Basta lembrar que quase um milhão de brasileiros foram mortos a tiros entre 1980 e 2017, segundo dados do Atlas da Violência de 2019. E que, em média, no Brasil, apenas 15% dos homicídios são esclarecidos.

Pela norma do Exército, munições vendidas a órgãos de segurança pública (polícia federal, civil, militar e guardas metropolitanas) devem ter lotes com até 10 mil unidades marcadas pela indústria nacional com um mesmo número de identificação.

Não é preciso ser um gênio da estatística para perceber que lotes gigantescos, divididos entre diversas unidades policiais, dificultam a investigação da autoria do disparo ou do eventual ponto de desvio da munição quando uma cápsula marcada surge na cena de um crime. 

No caso do comércio de munições para civis, porém, o caso é mais grave: as cápsulas simplesmente não carregam identificação nenhuma, tornando seu rastreamento impossível.

A venda de munição a civis está atrelada ao registro legal da arma de fogo. E a flexibilização das regras para posse de armas, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), tende a ampliar o número de pessoas autorizadas a fazer a compra. Com isso, ampliam-se oportunidades de desvios, intencionais ou fruto de roubo.

A indústria já alegou que a marcação era técnica e economicamente inviável. Difícil crer no argumento técnico quando parcela da munição feita aqui recebe identificação. Quanto ao argumento econômico, bem, frango “bio” custa mesmo mais caro.

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