Quando a régua é a dos erros em previsões, dizem que economistas só perdem mesmo é para meteorologistas.
O tom de brincadeira guarda fundo de verdade. A quantidade de variáveis de uma economia globalizada e em constante movimento é desafiante e faz frente ao chamado efeito borboleta, base da teoria do caos, desenvolvida pelo meteorologista e matemático norte-americano Edward Lorenz (1917-2008).
Segundo sua generalização, "o bater das asas de uma borboleta no Brasil" seria capaz de causar "um tornado no Texas", ou seja, um evento pequeno e aparentemente desconexo teria o potencial de trazer consequências dramáticas e incalculáveis em outras bandas.
A ameaça de epidemia de coronavírus a partir da megalópole industrial de Wuhan, uma ilustre desconhecida por aqui com nada menos que 10 milhões de habitantes, na China, está aí para comprovar, de novo, a vulnerabilidade da economia global.
Iniciado o contágio, os investidores começaram a dar no pé da China em busca de maior segurança. E as consequências do episódio para a economia chinesa embaralham a provável queda de consumo local com a fuga de capital estrangeiro.
Qualquer impacto na China, a segunda maior economia do mundo, é sinônimo de repercussão global. A forte queda da Bolsa brasileira —3,3% na segunda (27), a maior desde junho de 2019—, dias depois de altas históricas, é evidência disso. O caso pode ainda repercutir nas exportações brasileiras para o gigante asiático.
Enquanto isso, o Brasil leva a cabo um projeto de embrutecimento em áreas estratégicas como educação, ambiente e cultura a reboque da promessa de crescimento econômico e de supostos ganhos de mercado erguidos em bases frágeis e pouco sustentáveis —e ainda por cima sujeitas a imprevistos como o coronavírus.
Por aqui, os ataques à pesquisa acadêmica, à universidade pública e à sociedade civil organizada parecem minar, a um só tempo, a ciência brasileira, a formação que promove mobilidade social para brasileiros pobres e a capacidade de articulação para a defesa de bens públicos, como o ambiente e os direitos civis.
A desvalorização das humanidades, dos grupos étnicos e raciais não brancos e da produção cultural popular depreciam a crítica, a diversidade e de autoestima.
E os ataques à história e à imprensa livre distorcem o conhecimento baseado em evidências, abrindo as portas para fake news e manipulações de toda sorte, com consequências imprevisíveis.
Trata-se de mudanças profundas, com o potencial de criar uma nova cultura de deseducação, desrespeito e depredação —de subdesenvolvimento, portanto—, mas que vêm sendo toleradas em nome de recordes na Bolsa que não só beneficiam a poucos mas também estão sujeitos a variáveis tão amplas e minúsculas quanto um novo vírus.
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