Fernanda Mena

Jornalista, foi editora da Ilustrada. É mestre em sociologia e direitos humanos pela London School of Economics e doutora em Relações Internacionais.

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Utopias contra a distopia

Manifestos reúnem desde líderes de gigantes como Microsoft e Unilever a eurodeputados socialistas e elegem a economia verde para a pós-pandemia

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São Paulo

A crise sanitária, econômica e social sem precedentes promovida pela pandemia do coronavírus criou espaço para discussões mais pragmáticas --e menos dogmáticas-- sobre o futuro da vida no planeta.

Ao lançar boa parte da população global numa espécie de distopia da vida real, com desafios e privações antes inimagináveis, a disseminação da Covid-19 abriu caminho para a elaboração de novas utopias, boa parte delas ligadas à chamada economia verde.

Ativista da ONG Greenpeace segura cartaz em que se lê "Normal era um problema. O futuro pode ser melhor" durante protesto em Varsóvia, na Polônia - Wojtek Radwanski/France Presse

Um manifesto europeu uniu ambientalistas, políticos e presidentes de gigantes multinacionais como Microsoft, Unilever, Lego e Ikea, somando mais de 180 pesos-pesados em defesa de um pacote de estímulos para a retomada na zona do euro a partir de uma economia verde.

O documento, batizado de “Aliança Europeia para uma Retomada Verde”, insiste na necessidade de duas batalhas simultâneas e articuladas no rescaldo da Covid-19: a recuperação da economia e o combate às mudanças climáticas e aos ataques à biodiversidade.

No front econômico, segundo a carta assinada também por ministros de 11 países, ONGs e think tanks, necessários investimentos maciços na manutenção e criação de empregos, além do apoio a empresas, regiões e setores abalados pela crise. Já o front ambiental demandaria um novo modelo de prosperidade que proteja a biodiversidade e transforme o sistema agro-alimentício da União Europeia.

Na Holanda, um grupo de 170 acadêmicos e pesquisadores elaborou um manifesto com cinco propostas de um novo modelo de desenvolvimento para o mundo pós-pandemia que também tem como pilar a reversão de meios de produção predatórios da natureza e promotores de desigualdade.

A primeira é uma mudança radical de foco do desenvolvimento econômico: no lugar de almejar o crescimento agregado do PIB, setores seriam diferenciados entre os que precisam crescer e receber investimentos, como energia limpa, educação e saúde, e os que precisam encolher por serem insustentáveis ou incitarem o consumo desenfreado, como mineração, exploração de petróleo e publicidade.

A segunda proposta é de um sistema econômico redistributivo, que estabeleça a renda básica universal, a taxação progressiva de salários, lucros e rendimentos, a redução das jornadas de trabalho e a valorização salarial de quem desempenha trabalhos essenciais, especialmente em saúde e educação.

A terceira trata da transição do agrobusiness para modelos baseados na preservação da biodiversidade, na sustentabilidade e na valorização do trabalho e dos salários dos agricultores, o que implica num favorecimento das culturas vegetais em detrimento das animais.

A quarta sugere a redução do consumo e das viagens, e a quinta pede o cancelamento das dívidas de trabalhadores, pequenos empresários e países do Sul global, devedores de outros países mais ricos ou de instituições internacionais de financiamento.

O documento argumenta ainda que a questão ecológica tem recebido pouca atenção durante os debates ligados à pandemia, mas que seria o elo entre o desenvolvimento econômico predatório que se quer reverter e potenciais novos surtos de vírus antes desconhecidos dos humanos.

Quem quer uma economia verde?

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