Fernando Ganem

Médico cardiologista, é diretor geral do Hospital Sírio-Libanês e coordena o programa de residência de clínica médica da instituição

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Protocolos orientam diagnóstico e tratamento de doenças

Esses documentos só são possíveis a partir de dados adquiridos por meio de estudos, que variam em níveis de confiabilidade e evidência

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No âmbito hospitalar, é muito comum discutirmos os protocolos que a instituição adota para cada doença. Mas, na prática, o que quer dizer o termo "protocolo"? Segundo o dicionário Houaiss, protocolo pode ser uma ata ou registro de documentos, ou um comprovante de que algo foi entregue. Protocolo também pode ser um acordo entre países sobre um determinado tema. Mas nenhuma destas definições traduz o conceito do que é um protocolo clínico, uma das várias expressões técnicas do setor de saúde que acabou se popularizando durante a pandemia de Covid-19, assim como mutações virais e imunidade celular.

O conhecimento científico é adquirido por meio de experiências e estudos com nível variável de relevância. Quanto melhor a qualidade metodológica dos estudos, maior a confiabilidade e nível de evidência. Em ordem crescente de evidência científica, temos: relatos de casos e opiniões de especialistas; série de casos; estudo de caso-controle; estudo de corte; estudo clínico randomizado (ECR); revisão sistemática de ECR; e meta-análise.

Para entender como esses termos se encaixam no seu dia a dia, basta entender que a validação da segurança, eficácia e liberação de vacinas para Covid-19 veio de estudos clínicos randomizados, que permitiram a aprovação de uso com aval dos órgãos governamentais, por exemplo. E é aqui que entram os protocolos clínicos.

Profissionais de saúde paramentados com roupas de proteção, da cabeça aos pés, dentro de sala verde; em primeiro plano, um homem de costas olha para frente, na direção de dois outros profissionais, um deles ao lado de uma maca
Equipe médica com equipamento de proteção para tratar pacientes com Covid em hospital - Kirill Braga/Reuters

As evidências adquiridas por meio de estudos permitem a criação de protocolos clínicos e diretrizes (PCD), que basicamente são documentos que orientam os processos e métodos para fazer o diagnóstico e tratamento de determinadas doenças, geralmente pela prevalência ou gravidade dessas.

Apesar de muitos só terem ouvido falar em protocolos clínicos pela primeira vez durante a pandemia, os PCDs não foram criados como resposta à Covid-19. Eles já existem há décadas.

Os protocolos são tão importantes para a classe médica que diversas sociedades médicas nacionais e internacionais de especialidades como cardiologia, neurologia, oncologia e pediatria, entre outras, reúnem-se periodicamente, convocam especialistas e confeccionam novos protocolos à luz de novas evidências que são descobertas a partir dos estudos citados acima. Os PCDs trazem recomendações que terão validade e poderão balizar a conduta clínica até que novos estudos tragam suporte para mudanças e, assim, garantam as melhores práticas.

Dentro de um hospital como o Sírio-Libanês, temos protocolos clínicos que nos ajudam a garantir que nossos pacientes recebam o cuidado clínico mais atualizado que existe, com base em evidências científicas.

Para o tratamento da Covid-19, criamos mais de cem protocolos clínicos, que incluem também a criação de novas rotinas e fluxos de atendimento, separando casos suspeitos de síndrome respiratória dos demais, que nos permitiram não apenas guiar nosso corpo clínico com excelência durante a pandemia, mas também garantir que todos os nossos profissionais de saúde estivessem informados sobre a conduta clínica para pacientes com suspeita de infecção pelo Sars-Cov-2.

Por causa dos nossos protocolos, conseguimos garantir um melhor cuidado contra Covid-19, assim como já usávamos esse processo para balizar nosso atendimento em outras áreas clínicas. Durante a pandemia, pudemos ainda compartilhar nossos protocolos com diversos serviços, inclusive do setor público.

Nosso hospital atendeu mais de 5,5 mil pessoas com Covid-19 de março de 2020 até hoje, sendo 1.000 desses pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Nossa qualidade foi atestada em estudo publicado na revista científica Plos One, que mostrou que em uma avaliação de 212 pacientes internados de março a junho de 2020, uma das menores taxas de mortalidade do mundo no tratamento de Covid-19. Tenho imenso orgulho em afirmar que nenhum óbito foi registrado entre nossos profissionais internados com essa doença.

Doenças graves, crônicas e potencialmente fatais geram sofrimento, desgaste físico e mental, além de perdas em diversas dimensões. Elas nos fazem procurar pelo melhor tratamento e alívio da dor e angústias.

A meu ver, o melhor tratamento é aquele baseado nas melhores evidências científicas, espiritualidade e que conta com a afetividade e empatia de quem nos cerca. A criação de protocolos clínicos são os que nos garantem um atendimento de qualidade e baseado em evidências comprovadas, além de uniformidade que permitem à instituição reportar uma baixa taxa de mortalidade em nossas unidades críticas. E o nosso papel como gestores e profissionais de saúde é criar o ambiente e processos para que os protocolos clínicos possam permanecer como o padrão ouro que são hoje.

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